Roman Holowinsky, professor associado de matemática da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, era um pesquisador recém contratado quando criou um grupo para a integração social dos jovens docentes que, como ele, vinham de diversas partes do país para trabalhar na instituição. A comunidade acadêmica informal logo se transformou em projetos institucionais que promovem colaborações entre diferentes áreas acadêmicas e ampliam a interação com outros setores da sociedade. Holowinsky apresentou as experiências e os impactos dos projetos em conferência realizada nesta segunda-feira, 22, na 71ª Reunião Anual da SBPC.
Criada em 2011, a Columbus Junior Faculty tinha como objetivo conectar os jovens docentes de diferentes áreas por meio de eventos sociais e, em seguida, promover a troca de informações e experiências entre eles. “Conforme nos encontrávamos e nos divertíamos em jantares e concertos, as relações sociais foram se transformando em parcerias de trabalho e em projetos de financiamento colaborativos”, conta.
Esse foi o primeiro passo para a criação, em 2012, da STEAM Factory, que atualmente funciona como uma rede de base diversificada e inclusiva na comunidade do estado de Ohio que facilita a colaboração criativa e interdisciplinar, inovação e disseminação. O grupo escolheu uma fábrica desativada em um bairro de intensa vida cultural da cidade de Columbus — que eles já frequentavam como parte de suas atividades sociais — para a criação de sua sede. “Os primeiros anos foram muito desafiadores. Estávamos sempre em busca de financiamento e apoio para a criação e manutenção da estrutura”, lembra Holowinsky, co-fundador e diretor do grupo até 2018.
Mas não faltou ânimo para os jovens docentes. De acordo com o matemático, o que incentivou o engajamento dos pesquisadores no início do projeto foi, por um lado, “a satisfação pessoal de colaborar e, ao mesmo tempo, uma necessidade de complementação de suas pesquisas a partir da perspectiva de seus colegas de outras áreas”.
Colaboração na pesquisa
Construir colaborações e proporcionar o financiamento de projetos interdisciplinares estão entre os principais objetivos da STEAM Factory. “Criamos oportunidades para pesquisadores de diferentes departamentos e áreas trabalharem e inovarem juntos”, afirma Holowinsky. A construção de relacionamentos é feita por meio de eventos realizados regularmente na sede do grupo, em que os participantes trocam seus pontos de vista sobre um tema central e estabelecem colaborações a partir dessa aproximação.
Para o financiamento das pesquisas, o grupo conseguiu dois pequenos aportes no início do projeto, até que, em 2014, sete faculdades e escritórios da Universidade Estadual de Ohio assinaram um acordo de financiamento do projeto por cinco anos, “somando atualmente 210 mil anuais”, comemora. De acordo com Holowinsky, entre 2015 e 2017, 13 projetos colaborativos foram financiados, beneficiando 29 membros do grupo e somando 81 mil dólares. A verbas destinadas são de, no máximo, 25 mil dólares por projeto e 5 mil dólares por pesquisador.
Disseminação para a sociedade
Outro objetivo da STEAM Factory é aumentar a conscientização e compreensão pública sobre o impacto da pesquisa científica desenvolvida no estado. “Decidimos apresentar a Universidade Estadual de Ohio para a sociedade não a partir de seu campus, da forma tradicional, mas nesse novo espaço, num formato parecido com um festival de artes”, conta Holowinsky.
Inseridos na efervescência cultural do bairro de Franklinton, onde fica a sua sede, o grupo participa de um festival mensal, com mais de cem artistas locais. No evento, que atrai cerca de 2 mil pessoas a cada edição, os pesquisadores das diversas áreas do conhecimento apresentam o seu trabalho, de forma criativa, para a população visitante. De acordo com o matemático, “Os estudantes são envolvidos nos eventos internos e externos [da STEAM Factory], como uma forma de praticar a tradução do que fazem em suas pesquisas para os diferentes públicos”.
Em 2017, o grupo da STEAM Factory já somava 170 membros entre docentes, pós-doutorandos e técnicos de 66 diferentes departamentos da instituição. Mais recentemente, em 2018, eles receberam um aporte financeiro da National Science Foundation (NSF) no valor de 1,2 milhão de dólares para estudar o impacto da STEAM Factory na divulgação científica local.
Conectando com as empresas
Atualmente, Holowinsky é diretor do Instituto Erdos, criado em 2017 e que tem como finalidade promover a interação entre doutorandos e o setor produtivo. “A maioria dos nossos docentes não está preparada para treinar os estudantes para o trabalho fora da academia, principalmente em áreas mais teóricas”, afirma.
Pesquisa realizada com os pós-graduandos da Universidade Estadual de Ohio revelou, no entanto, que 50% deles têm interesse em seguir carreira na indústria e que 90% querem aprender sobre carreiras fora da academia. De acordo com Holowinsky, a concorrência é um fator estimulante, já que 40 mil doutores são formados por ano nos Estados Unidos, enquanto apenas três mil novas vagas acadêmicas são criadas.
Mesmo em áreas em que o desemprego não é um problema — na matemática, por exemplo, a taxa de desocupação entre profissionais com doutorado é de apenas 2% — as ações são bem-vindas como uma forma de ampliar o leque de possibilidades profissionais dos recém-doutores. “A questão não é se consegue ou não o emprego. A questão é: você conseguiu o emprego que queria?”, questiona Holowinsky. Essa, portanto, foi a premissa para a criação da instituição: proporcionar oportunidades para que os pós-graduandos possam escolher o tipo de carreira que querem seguir.
O programa PhD Talent Initiative, do Instituto Erdos, promove eventos conectando setores da indústria e a rede de estudantes de pós-graduação da STEAM Factory, nos quais as companhias trazem orientações sobre as habilidades que procuram em seus futuros profissionais.
A instituição também promove atividades práticas nesse sentido, como os Code Boot Camps, em que os pós-graduando trabalham juntos em projetos e os apresentam às empresas. “Essa é uma oportunidade que eles têm para demonstrar a sua capacidade de identificação de problemas e habilidades criativas e técnicas para resolvê-los”, explica Holowinsky. O interesse das empresas e os impactos das ações já podem ser percebidos: desde 2015, os projetos já receberam mais de 150 mil dólares em patrocínio de diferentes setores da indústria.
Ana Paula Morales – especial para o Jornal da Ciência