A ciência brasileira mudou de patamar a partir de 1951, com a fundação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A avaliação é do secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Jailson de Andrade, que participou, nesta terça-feira (25), das celebrações pelo aniversário de 66 anos do CNPq.
“Na realidade, a criação do CNPq e da Capes institucionalizou a ciência no Brasil”, disse Jailson. “Sempre ressalto que essas duas agências e a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] são extremamente necessárias exatamente como elas são. O CNPq apoia um CPF, desde o jovem aluno até o cientista mais qualificado; a Finep apoia um CNPJ, de uma empresa de pequeno ou grande porte a um governo municipal, estadual ou federal; e a Capes está no seio das universidades e gerou as pró-reitorias de pesquisa e pós-graduação, instituídas diante da necessidade de interagir com o órgão. São três sistemas, e nós precisamos muito deles, porque estão na origem e na consolidação da ciência, tecnologia e inovação [CT&I] em nosso País.”
O presidente do CNPq, Mario Neto Borges, destacou como primordial, ao longo dos 66 anos, a tarefa de gerar “muita ciência, com boa qualidade, focada na solução de problemas nacionais, para o avanço das fronteiras do conhecimento e, portanto, para o desenvolvimento sustentável de longo prazo do nosso País”. Na visão dele, a agência precisa continuar a priorizar a formação da juventude, para que o Brasil disponha de novas gerações que observem “ciência, tecnologia e inovação como um tripé equilibrado, capaz de beneficiar a sociedade”.
Jailson e Mario Neto homenagearam os servidores aposentados em 2016 e aqueles que completam 25 anos de serviço em 2017. Também participaram do evento o secretário de Política de Informática do MCTIC, Maximiliano Martinhão, o diretor do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Fernando Rizzo, e os diretores de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde, Marcelo Morales, de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais, Adriana Tonini, e de Gestão e Tecnologia da Informação do CNPq, Carlos Roberto Fortner.
Idealizado pelo almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, o então Conselho Nacional de Pesquisas foi instituído em 15 de janeiro de 1951, com finalidade de promover e estimular o desenvolvimento científico e tecnológico, mediante a concessão de recursos para pesquisa, a formação de pesquisadores e técnicos e a cooperação com universidades brasileiras e estrangeiras. A primeira reunião de seu Conselho Deliberativo ocorreu em 17 de abril daquele ano – motivo pelo qual a agência celebra seu aniversário neste mês.
Bolsas de iniciação científica despertam estudantes para pesquisa
A maioria dos estudantes universitários que participam de bolsas de iniciação científica demonstra mais interesse em fazer mestrado ou doutorado na comparação com alunos que não participam do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), criado em 2001 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o qual destina R$ 153 milhões ao ano. Sob o título “A formação de novos quadros para CT&I: avaliação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic)”, o estudo foi divulgado na cerimônia de comemoração de 66 anos do CNPq.
Conforme o estudo, 70% dos universitários bolsistas do Pibic manifestam interesse de fazer pós-graduação, como mestrado e doutorado. Para o presidente do CGEE, Mariano Francisco Laplane, o interesse desses bolsistas de seguir a carreira científica e acadêmica decorre da riqueza de conhecimento adquirida no decorrer da experimentação científica, permitida pelo Pibic.
“Esse padrão de resposta indica que o Pibic constitui, de fato, um poderoso instrumento para canalizar o interesse do estudante de graduação para a pós-graduação”, acrescenta.
Com base em dados estudantes egressos da Unesp, o estudo mostra que os bolsistas do programa têm uma chance de 2,2 vezes maior de completar o mestrado; e chance de 1,5 maior de concluir o doutorado do que os alunos que não participam do programa.
Mercado de trabalho
O estudo também revela que o programa de iniciação científica abre portas para o mercado de trabalho, após a conclusão da pós-graduação, em qualquer atividade profissional. Isso porque, diz a sondagem do CGEE, o título de doutorado aponta uma chance de 3,64 vezes maior, o equivalente a 264%, de estar empregado, em relação àqueles que não têm o título de doutor.
Outra vantagem que o estudo aponta, conforme o presidente do CGEE, é a possibilidade de se trabalhar no setor produtivo, na indústria de transformação. O dado indica chances de 6,1% maiores para doutores; e 2,1% para mestres, que passaram pela iniciação científica. Já os percentuais de chance para os profissionais com as mesmas titulações, mas que não passaram pela iniciação científica do Pibic, caem para 4,9% e 1,4%, respectivamente.
A sondagem mostra ainda que as mulheres detêm o maior número de bolsas concedidas pelo Pibic. Em 2001 respondiam por 55% do total, participação que cresce para 60% em 2013. O levantamento aponta também valorização do rendimento médio dos profissionais com título de mestre e doutor, de R$ 6.042 e R$ 10.061, respectivamente em 2014. Já a renda média dos que obtiveram o titulo no exterior é de R$ 10.216.
Em 12 anos, o programa de iniciação científica do CNPq cresceu 67%, de 14,5 mil em 2001 para um total de 24,3 mil em 2013. É um avanço de 67%. Ainda assim, o crescimento é aquém do crescimento registrado no número de matrículas de graduação na esfera pública, com aumento de 104% no mesmo período; e no número de matrículas na pós-graduação, que aumentou 116%, na mesma base comparativa.
Estagnação
A coordenadora de Programas Acadêmicos do CNPq, Lucimar Almeida, afirmou o número de bolsas do Pibic está praticamente estagnado desde 2010, igualmente o valor da bolsa, de R$ 400,00. Para este ano, a ponta do lápis aponta para 24,210 mil bolsas mantidas pelo programa. “Seria importante a expansão do programa de forma sustentável. Por que não adianta aumentar o numero de bolsas e não ter a institucionalização do programa nas instituições de ensino superior e nos centros de pesquisa”.
Apesar do recente corte de quase 50% no orçamento da pasta da Ciência, Tecnologia e Inovação este ano, o presidente do CNPq, Mario Neto Borges, assegurou que as bolsas e os programas em andamento serão mantidos, apesar de ameaças verificadas no ano passado. “Não haverá nenhum corte de bolsa e nenhuma interrupção de projeto em andamento. O que vamos fazer é ajustar os programas do CNPq à nova realidade orçamentária. Mas o CNPq mantém todas as bolas em andamento.”
A cientista Laila Salmen Espindola, da Universidade de Brasília (UNB), especializada na produção de fármacos e conselheira da SBPC, observa que o impacto desse programa na sociedade é significativo. “Os estudantes que começaram no meu laboratório, comigo, em 1998, hoje são meus colegas de trabalho. Começaram no Pibic, fizeram mestrado, doutorado e pós-doutorado. O Pibic é uma janela de oportunidades. Vejo que estudantes nascem no Pibic e depois se destacam como grandes pesquisadores.”
O estudo pode ser acessado aqui.
Jornal da Ciência, com informações do MCTIC