A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizou na última segunda-feira (06/03), o último dos encontros da série “Mulheres e meninas: poder e ciência na refundação do Brasil”, almoços virtuais com o objetivo de proporcionar a integração entre as meninas cientistas vencedoras do 4º Prêmio Carolina Bori e mulheres consolidadas no mercado acadêmico.
Voltado às ciências das Engenharias, Exatas e Ciências da Terra, o encontro contou com a participação das ministras Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos; Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação; e Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento.
Representando as sociedades científicas e acadêmicas afiliadas à SBPC, também participaram: Débora Peres Menezes, professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF); Shirley Nakagaki Bastos, professora titular do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ); e Walcy Santos, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).
Quanto às jovens cientistas, participaram as vencedoras e menções honrosas da 4ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, promovido pela SBPC. São elas::Amanda Guimarães Melo, graduanda em Matemática na Universidade Federal do Sergipe (UFS); Sara Lüneburger, formada em Química pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); Maitá Carvalho Micol, graduanda em Ciências Moleculares com especialização em Física pela Universidade de São Paulo (USP); Wadja Feitosa dos Santos Silva, graduanda do curso de Química Tecnológica e Industrial da Universidade Federal de Alagoas (Ufal); Camily Pereira dos Santos, estudante do curso Técnico em Informática integrado do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul; e Gabrielly Cardoso Rocha, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia.
Na abertura, o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, ressaltou que o evento é parte das comemorações do Mês das Mulheres, um período que também deve ser lembrado pelas lutas travadas pela equidade de gêneros.
“Nós fizemos questão de convidar para essas celebrações as ministras desse governo, que têm a maior participação de mulheres no primeiro escalão do Poder Executivo Federal. São 11 ministras, e as convidamos todas. Na abertura dessa série de eventos, na quarta passada (01/03), tivemos a ministra Nísia Trindade, já a ministra Cida Gonçalves esteve na última sexta-feira (03/03). Hoje, temos a presença da ministra Esther Dweck, que eu tive a grata condição de conhecer quando eu trabalhava no governo da presidente Dilma Rousseff, além de vídeos enviados pelas ministras Simone Tebet e Luciana Santos.”
Com a condução da diretora da SBPC, Laila Salmen Espindola, a programação começou com uma fala da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, que apresentou dados sobre a desigualdade de gênero no País, para a reflexão dos desafios a serem superados:
“Nada foi e nada é fácil para a mulher. Existe uma estrutura de décadas que penaliza as mulheres de todas as formas. E o ponto mais importante, que eu tenho a certeza de que em breve nós vamos reverter, é o que mostra que homens e mulheres no mesmo espaço de trabalho, com a mesma atividade, com o mesmo currículo, [a mulher] chega a receber até 25% menos que um homem e, se for uma mulher preta, chega a receber até 40% menos. Essa triste realidade precisa ser colocada, a gente precisa repetir constantemente. É preciso ser trazida neste momento, especialmente numa atividade como a de vocês, porque quando a gente fala de ciência, era sempre uma visão de um ambiente masculino, como se homens e mulheres fossem diferentes no intelecto, e trazer isso é importante para falarmos de avanços.”
Também representando o órgão ministerial, a Secretária Nacional do MPO, Leany Lemos, trouxe algumas das políticas mais atuais que a Pasta e o próprio Governo Federal almejam nos próximos meses.
“Uma das diretrizes muito importante para o nosso planejamento do Brasil nos próximos quatro anos é justamente a gente recuperar a nossa capacidade de planejar, que foi deixada de lado nos últimos anos, a necessidade de se olhar para o futuro de maneira estratégica. Então, com isso em mente, nós estamos começando esse processo. No que diz respeito a gênero, temos alguns elementos muito importantes. O primeiro é a gente ter avanços metodológicos que vão permitir a produção de indicadores específicos. Precisamos de metas e indicadores específicos para gênero, e isso em algumas áreas não existe. É muito relevante a produção de indicadores porque, sem isso, a gente não consegue avaliar, reforçar, e construir as políticas [públicas]”.
Ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck falou sobre o evento de relançamento do programa Bolsa Família na última semana, quando uma doutoranda em biologia contou sua história, afirmando que o incentivo científico é um incentivo social:
“É isso que a gente espera no Brasil nos próximos anos: que a gente tenha cada vez mais mulheres na Ciência. E que a gente possa, na verdade, mudar um quadro de muita desigualdade, que ainda mais jovens que sejam egressos de famílias com alguma dificuldade possam superar também essa situação por meio da Educação e por meio da Ciência.”
Encerrando as falas das representantes do Governo Federal, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou o evento realizado pela SBPC em fevereiro, no qual pode falar diretamente com as sociedades científicas paulistas, e trouxe os números da desigualdade entre homens e mulheres no acesso aos recursos federais de incentivo à Ciência, um cenário que busca modificar.
“Eu tenho reafirmado o meu compromisso com a construção e a implementação de políticas públicas que assegurem a participação das mulheres na ciência. Como a primeira ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, essa é uma agenda cara e coerente com minha trajetória pessoal e profissional, uma agenda que trabalharei de forma incansável para além do mês de março. A esta agenda demos o nome de ‘Pesquise como uma mulher’ e, por meio dela, vamos superar as barreiras que hoje dificultam o acesso e a ascensão das mulheres na ciência.”
Representantes das entidades científicas reforçam papel do incentivo à ciência desde a educação básica
Após a apresentação dos trabalhos por parte das meninas cientistas, as representantes das sociedades científicas associadas à SBPC trocaram experiências com as jovens.
Professora titular do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Shirley Nakagaki Bastos, contou que as apresentações a fizeram relembrar de quando também era estudante e se apaixonou pela ciência. “Na época, queria fazer alguma coisa que a gente imaginava que fosse ciência, a gente imaginava que resultaria em algum produto científico. Que esse sonho nunca desapareça do coração de vocês, vocês serão cientistas maravilhosas e serão o futuro do Brasil.”
Walcy Santos, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), também ressaltou em sua fala o valor dos trabalhos das meninas cientistas e mensagem inspiradora que cada uma deixa para essa nova geração. “Eu acho que isso emociona a gente, de ver pessoas jovens com um brilho nos olhos pelos seus trabalhos.”
O terceiro encontro da série “Mulheres e meninas: poder e ciência na refundação do Brasil” está disponível na íntegra no canal da YouTube da SBPC, junto aos eventos anteriores, que abordaram Ciências da Vida e Humanidades.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência