A equipe organizadora da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI) lançou na última quarta-feira (10/07), durante a 76ª Reunião Anual da SBPC, dois livros digitais (e-books) que trazem sínteses dos debates ocorridos durante a fase preliminar do evento. O objetivo das publicações foi compilar as percepções apresentadas nos 221 eventos prévios, de modo a auxiliar os debates que acontecerão no final do mês, em Brasília.
“A Conferência Nacional é precedida por conferências preparatórias, e nós tivemos 221 desses eventos. Um número enorme, muito maior do que poderíamos imaginar. Boa parte delas, 157 eventos, foram conferências livres, sugeridas pela sociedade. Essa quantidade mostrou a necessidade que a comunidade científica tinha de fazer e participar de discussões, e de trazer propostas para a política científica do País”, afirmou o secretário-geral da 5ª CNCTI), Sergio Rezende.
Os eventos preparatórios foram realizados entre os meses de dezembro de 2023 e maio de 2024 e divididos em conferências livres (em que pessoas e instituições elaboraram propostas de temas e enviaram à comissão organizadora), conferências municipais, estaduais, regionais (Sudeste, Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste) e conferências temáticas – temas importantes de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) que foram selecionados para debate pela própria comissão organizadora da 5ª CNCTI.
“Para se ter uma ideia, na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em 2010, nós tivemos menos de 20 conferências livres. Tivemos também um número semelhante de conferências temáticas, regionais e estaduais. Desta vez, achávamos que teríamos cerca de 40 a 60 conferências livres a mais, mas tivemos 157. Com isso, o acervo de informações que possuímos para a 5ª CNCTI é extenso e riquíssimo, e que precisava de uma estrutura poderosa para poder ser sistematizado”, comenta Rezende.
Para isso, a subcomissão de Sistematização e Documentação da 5ª CNCTI, coordenada pela vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francilene Garcia, recorreu à inteligência artificial para auxiliar no agrupamento das informações.
“Essa subcomissão, como seu nome diz, tem a missão e o desafio de procurar sistematizar, registrar e documentar todas as discussões e vozes trazidas na fase preparatória da 5ª Conferência. Isso posto, com todo o processo que vivemos hoje de ferramentas digitais presentes, é natural que precisássemos trabalhar de forma inteligente. Essa forma inteligente gerou a necessidade da construção metodológica que envolveu uma parceria com uma empresa especializada em inteligência artificial, de forma que, com os integrantes da subcomissão e colaboradores do CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), pudéssemos chegar aos dois e-books”, detalhou Garcia.
A vice-presidente da SBPC defendeu que o uso atrelado de tecnologia e apuração humana foi essencial para dar conta de todos os debates realizados. “Foram 4 mil horas de discussões, 70 mil pessoas participando nesse processo. É uma fatia significativa da sociedade se nós olharmos para a movimentação histórica do País quando se trata da participação em políticas públicas na área de Ciência, Tecnologia e Inovação.”
Os e-books foram divididos entre síntese das conferências livres e síntese das conferências regionais e reuniões temáticas, com download gratuito no site da 5ª CNCTI. O objetivo é que cada participante da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, a ser realizada nos dias 30, 31 de julho e 1º de agosto, leia os materiais, de modo a desenvolver os debates preparatórios.
“Eu acredito que a coordenação geral da 5ª CNCTI e o próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação se surpreenderam com algo que eu considero como um dos aspectos mais ricos dessa fase preparatória, as reuniões temáticas espontaneamente conduzidas pela sociedade. Essas reuniões trouxeram percepções diferenciadas em relação a vários dos temas discutidos nas demais atividades. Cito dois temas: a bioeconomia, com visões dos conhecimentos tradicionais e saberes dos povos originários, e ciência aberta, que é um tema transversal e que apareceu em várias discussões”, detalhou Garcia.
A especialista concluiu que a ampla participação social durante os processos da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação mostra que a política científica é um tema de interesse popular. “Nós consideramos que o engajamento das pessoas, principalmente nessas 157 conferências livres, não só complementou, de uma forma muito diversa e rica, as discussões induzidas pela coordenação geral, mas trouxe algo que é fundamental para a validação e legitimação de qualquer política pública: o engajamento da sociedade.”
Rafael Revadam – Jornal da Ciência