Comissão de Educação encerra 2020 com homenagem a cientistas

Escolha de homenageados procurou valorizar realizações científicas de mulheres e do povo negro

Esperança, utopia, valorização de mulheres vitoriosas e da “ciência preta” foram mensagens que a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) escolheu para sua última reunião em 2020, realizada nesta quinta-feira (17/12/20).

Na ocasião, foram homenageados quatro cientistas que atuam em instituições mineiras, com destaque para três mulheres negras. Todos receberam diplomas referentes a votos de congratulações da ALMG por suas trajetórias de vida e pelas contribuições à ciência em Minas.

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De acordo com a presidenta da Comissão de Educação, deputada Beatriz Cerqueira (PT), a escolha de uma homenagem para o encerramento das atividades em 2020 tem a deliberada intenção de resgatar a esperança e a positividade em um ano de grandes dificuldades, tanto para educação quanto para a ciência, no País e em Minas Gerais.

Se nós perdermos a esperança, perdermos o horizonte de uma utopia, não conseguiremos seguir adiante, como é necessário”, afirmou Beatriz Cerqueira, acrescentando que a escolha dos homenageados é uma forma de enfrentar o silenciamento estrutural das vozes e das conquistas de mulheres e do povo negro.

A quebra desse silenciamento é endossada por algumas das realizações das mulheres homenageadas, como a doutora em biologia celular Luciana Maria Silva Lopes, cofundadora da Liga de Ciência Preta Brasileira. Luciana afirmou que a recente criação dessa Liga foi uma maneira de quebrar o isolamento de cientistas negros em todo o Brasil.

O deputado Betão (PT) citou dados que reforçam o simbolismo da homenagem: “Apenas 13% dos negros entre 18 e 24 anos chegam ao ensino superior. E para as mulheres negras, (o índice) é menor ainda”, afirmou.

Em seus agradecimentos, as três mulheres homenageadas ressaltaram a importância do momento para incentivar jovens estudantes negras. “Assim como eu estou aqui, meninas, vocês também podem estar. Não acreditem em quem afirma que esse espaço não é de vocês”, declarou a professora Rosy Mary dos Santos Isaias, do Departamento de Botânica da UFMG, mestra e doutora pelo Museu Nacional/UFRJ e USP e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Pesquisadores elogiam ação da Assembleia em favor de instituições científicas

Luciana Lopes, que também chefia o Serviço de Biologia Celular da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Ezequiel Dias (Funed), disse que o acolhimento à ciência, em um momento em que ela tem sido tão atacada e desvalorizada, tem uma importância especial. “Eu tive várias conquistas, mas ser homenageada por uma Comissão de Educação é muito especial, porque dá visibilidade para aquilo que a gente defende”, afirmou a pesquisadora.

Essa defesa da ciência e especialmente do Sistema Único de Saúde (SUS) também deu o tom dos pronunciamentos de outros dois homenageados: a diretora do Instituto René Rachou/Fiocruz Minas, Zélia Maria Profeta da Luz, e o pesquisador Rodrigo Leite, ex-vice-presidente da Funed.

Zélia Maria integra a coordenação da Inteligência Coletiva Minas Gerais, em conjunto com a presidenta da Comissão de Educação da ALMG e o secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Luciano Mendes Filho, que também participou da reunião desta quinta.

A Inteligência Coletiva reúne pesquisadores mineiros para pensar soluções para as crises vividas no País, uma iniciativa que conta com o apoio e participação da Assembleia de Minas. Ao agradecer a homenagem desta quinta, Zélia Maria elogiou o esforço da Mesa da Assembleia em apoiar a ciência e a tecnologia e evitar o desmonte das instituições científicas.

Essa valorização da ciência, e em especial da saúde, também foi destacada pelos deputados Virgílio Guimarães (PT) e Professor Cleiton (PSB). O deputado petista afirmou que a importância da saúde transcende a questão técnica, abrangendo também aspectos sociais e políticos. Professor Cleiton elogiou a luta de quem defende essas atividades: “Ser pesquisador nesse País é para poucos. Ser cientista nesse País é porque teve que enfrentar muita coisa”, elogiou.

Apesar de a positividade ter sido a mensagem principal na reunião desta quinta, a homenageada Zélia Maria da Luz não deixou de reafirmar a importância da ciência para enfrentar com sucesso uma pandemia de Covid-19 que já causou 183 mil mortes no Brasil. “Muitas (dessas mortes) evitáveis e muitas resultado da desigualdade que existe nesse País”, lamentou a diretora da Fiocruz Minas.