“Nos trabalhos de campo, homens – não meus pares – boicotaram minhas atividades, me colocando em perigo físico até. Já fui desrespeitada e humilhada por fiscais federais e assediada por soldados do Exército. E sabe quando o assédio não acontecia? Quando tinha um homem para ‘me proteger’. É difícil fazer trabalho à noite no mato, de boa, sendo mulher”, conta a brasileira Renata Moretti, hoje pesquisadora na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. “Já tive de inventar algumas vezes que estava com marido ou namorado no campo, ou inventar e falar alto um nome de homem.”
Moretti, que é herpetóloga (zoóloga que estuda répteis e anfíbios), diz que foi somente no exterior que passou a se sentir respeitada como cientista mulher. “Eu achava isso normal. Aqui em Harvard a ficha caiu”, afirma. “E me assustei quando vi o quanto no Brasil eu era desacreditada. Aqui não precisei ver outras mulheres para me espelhar. Eu passei a ser uma pessoa como todo mundo.”
Dados mostram que o desequilíbrio de gênero na ciência de ponta é um problema mundial. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), apenas 28,8% dos pesquisadores acadêmicos do mundo são mulheres. Entre os 919 laureados com um Prêmio Nobel ao longo da história, a discrepância é ainda maior: são somente 54 mulheres reconhecidas.
Para a bióloga e ecóloga brasileira Laís Maia, pesquisadora na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, a própria “literatura científica mostra que existe muita discriminação de gênero dentro do mundo acadêmico”.
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