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Tecnologia e Inovação avançadas são um poderoso instrumento de desenvolvimento, mas não são garantia de prosperidade, explicou o economista Giácomo Balbinotto Neto ao responder à questão “Tecnologia gera prosperidade?”, tema de uma das conferências da programação da Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Espírito Santo.
Balbinotto é professor associado do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde.
A relação entre tecnologia e prosperidade não é assunto novo e teóricos clássicos da Economia como Adam Smith, Karl Marx, John Maynard Keynes e Joseph Schumpeter trataram do assunto em algum momento de suas pesquisas nos últimos 200 anos.
Mais recentemente, o efeito prático da tecnologia e inovação no bem-estar humano recebeu atenção de economistas como Robert Solow e Jean Tirole e, no ano passado, Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia por seus achados sobre o tema, compilados em um best seller intitulado “Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza” (Intrínseca, 2022).
Ao articular estes estudiosos do tema, Balbinotto mostrou que a tecnologia tem sido motora do crescimento econômico e está na base do enriquecimento de muitas nações. A inovação, por sua vez, cria efeitos de encadeamento tecnológico, gerando oportunidades adicionais, estimulando o investimento em capital físico (máquinas, equipamentos) e humano.
Já a prosperidade tem várias formas de ser medida, mas em geral é um conceito que ultrapassa o mero crescimento econômico, sendo melhor definida como desenvolvimento político e social. “O conceito de prosperidade transcende a acumulação de riqueza ou o Produto Interno Bruto (PIB)”, explicou o conferencista.
Segundo ele, a relação entre tecnologia e prosperidade é confirmada por diversas evidências empíricas, mas os impactos não são uniformes.
“Enquanto algumas inovações impulsionam o crescimento e a qualidade de vida, (também) geram desafios como desemprego estrutural e grandes desigualdades”. Um exemplo são os robôs que, ao mesmo tempo possibilitam cirurgias de precisão e aperfeiçoamento de vacinas que salvam vidas; por outro lado tiram emprego dos trabalhadores em diversas atividades, gerando pobreza e falta de oportunidades.
O que faz a diferença entre a inclusão e a exclusão tecnológica disse Balbinotto, é “um ambiente institucional favorável à inovação” que propicie proteção aos direitos de propriedade intelectual, políticas de apoio à pesquisa e desenvolvimento, promoção de atividades inovadoras, criação de universidades e agências de financiamento.
A conclusão é que a prosperidade tecnológica não acontece automaticamente, mas tem que ser buscada, estruturada por meio dos incentivos adequados. Do contrário, disse o conferencista, “a inovação pode reforçar desigualdades e enfraquecer os trabalhadores.”
Apresentadora da conferência, a vice-presidente da SBPC, Francilene Procópio Garcia, comentou que a resposta para a questão da conferência “Tecnologia gera prosperidade?” é que ela não é gerada automaticamente. “E, muito diretamente, não gera (prosperidade) porque ela precisa de uma caracterização, de mobilização de Estado, onde a tecnologia, de fato, seja inclusiva, ou seja, acessível a todos”, afirmou.
Janes Rocha – Jornal da Ciência