Titular da pasta da Ciência e Tecnologia no período entre 02/10/2015 a 14/04/ 2016, no segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, Celso Pansera acha que uma das medidas necessárias é a volta do MCTIC à sua configuração anterior, ou seja, voltado centralmente na produção de Ciência, da Tecnologia e da Inovação.
Ele é um dos ex-ministros consultados pelo Jornal da Ciência sobre o cenário atual do setor e estratégias de atuação. Cada um deles respondeu, por telefone ou e-mail, a três questões: Como vê a Ciência e a Tecnologia no Brasil hoje? Que estratégia sugere para a comunidade científica para atuar nesse cenário? e Que estratégia sugere para o desenvolvimento futuro?
Os oito depoimentos estão publicados na nova edição impressa do Jornal da Ciência que circula essa semana. Até sexta-feira (19/7) o JC Online vai publicar no site os depoimentos completos, dois por dia. Leia a seguir a entrevista completa de Celso Pansera:
JC – Como vê a Ciência e Tecnologia no Brasil hoje?
Celso Pansera – O evento realizado no dia 1 de julho de 2019 (ex-ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação se reuniram na sede da Coppe/UFRJ) não foi um encontro trivial. Teve o intuito de apresentar ao País um manifesto com as principais questões frente à crise do setor. Tampouco foi um ato de mera disputa política. Nas últimas décadas, os investimentos públicos e privados crescentes levaram a Ciência brasileira a se destacar no cenário mundial. Em 2000, o Brasil investiu 1,32% do PIB (Produto Interno Bruto) em Pesquisa e Desenvolvimento. Em 2015, esse índice havia atingido 1,70% e, em 2016, caiu abruptamente para 1,53%, de acordo com o último relatório divulgado pelo MCTIC. E sabemos que em 2017 e 2018 os números são ainda mais alarmantes.
JC – Que estratégia sugere para a comunidade científica para atuar nesse cenário de restrições orçamentárias?
CP – Quando enfatizamos que é preciso comprometimento com o futuro do País, estamos alertando que a Ciência e o conhecimento são produzidos ao longo do tempo, por isso a necessidade de continuidade dos projetos e dispêndios financeiros. Sendo assim, ressaltamos que o avanço de uma nação se dá pelo investimento marcante nas gerações de forma consistente. Em sua mensagem, o ex-ministro Ronaldo Sardenberg afirmou: “Mais grave ainda é a postura anti-ciência de agentes governamentais influentes questionando o aquecimento global, teoria da evolução e outros temas”. Então, não estamos apenas diante de cortes financeiros, mas também de uma atitude de desprezo à produção de conhecimento, uma visão equivocada sobre a capacidade da Ciência em ajudar o País a superar a grave crise econômica enfrentada.
JC – Que estratégia sugere para o desenvolvimento futuro?
CP – É visível a necessidade da volta do MCTI à sua configuração anterior, ou seja, voltado centralmente na produção de Ciência, de Tecnologia e de Inovação. Assim, teremos esta produção não só do Brasil para o mundo, mas, principalmente, para os próprios brasileiros. Nossas gerações do presente e do futuro certamente vão retornar esse investimento, e nosso Brasil continuar o avanço iniciado por esses chefes de Estado.
Os depoimentos dos ex-ministros estão reunidos neste link.
Janes Rocha – Jornal da Ciência