Casos de dengue em 2016 são maiores que em anos anteriores

Em palestra realizada durante a Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, em São Raimundo Nonato no Piauí, a pesquisadora da Fiocruz, Rafaela Bruno, afirmou que boletins epidemiológicos mostram que o ano de 2016 já começou com o número de casos de dengue bastante alto em relação aos anos de 2015 e 2014.
A dengue possui quatro sorotipos e a vacina hoje só existe na rede particular para pessoas entre 9 e 45 anos
Em palestra realizada durante a Reunião Regional da SBPC, em São Raimundo Nonato no Piauí, a pesquisadora da Fiocruz, Rafaela Bruno, afirmou que boletins epidemiológicos mostram que o ano de 2016 já começou com o número de casos de dengue bastante alto em relação aos anos de 2015 e 2014.
“Não podemos negligenciar a dengue por conta da zika que está circulante. Dengue é uma doença séria, grave e mata”, enfatizou a conferencista.
Com o tema “Aedes aegypti: será ele o elo vulnerável na cadeia de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya”, a pesquisadora explicou que o vetor primário é o Aedes aegypti. A dengue possui quatro sorotipos e a vacina hoje só existe na rede particular para pessoas entre 9 e 45 anos. “Crianças e adultos acima dos 45 anos continuam vulneráveis. Os idosos continuam bastante vulneráveis e não conseguem ter o reforço do sistema imune pela vacina”, disse.
De acordo com Rafaela, para a zika, doença emergente ainda não temos vacina e nenhum outro tipo de tratamento. “O que temos é somente o combate ao mosquito. A zika por enquanto só tem um sorotipo, o que indica que uma vez que você pega a doença, teoricamente adquire proteção para o resto da vida, mas ainda é tudo teoria”, frisou, acrescentando ainda que a chikungunya só tem um sorotipo. Também não tem vacina e nenhum tipo de tratamento.
Sobre o termo arboviroses, Rafaela explicou que são viroses presentes em artrópodes e que existem milhões de arboviroses não só transmitidas pelo Aedes aegypti, mas por outros mosquitos também. Para ter-se arbovirose é preciso três componentes: homem, vírus e mosquito.
Ciclo de vida
O ciclo de vida do mosquito vai de cerca de 7 a 10 dias dependendo da temperatura. Em temperaturas muito quentes, ele vai de ovo a adulto em 7 dias. Em temperaturas mais amenas, 10 dias. As etapas do ciclo de vida do Aedes aegypti começa com ovos, passam por larvas, pupas (em forma de vírgulas) e depois adultos. “Os ovos do Aedes aegypti são pretos, bem pequenos e eclodem em poucos minutos na presença de água. Eles têm uma resistência grande à dessecação. As fêmeas colocam seus ovos escuros em recipientes escuros e também próximo a superfície da água em ambiente úmido e não dentro da água. Os ovos têm capacidade de ficarem até 450 dias (um ano e meio) em ambiente seco. Eles resistem bastante à variação de temperatura. Os ovos quando saem, são brancos e depois de três horas ficam escuros. As larvas e pupas são a fase aquática no desenvolvimento do Aedes aegypti. Geralmente é a fase mais fácil de combater e eliminar. As larvas são resistentes ao jejum prolongado. Conseguem ficar muito tempo sem alimento e tem fotofobia. A água parada e limpa que o Aedes aegypti gosta não é necessariamente água potável, mas sim qualquer água com pouco resíduo de material orgânico. Água relativamente limpa”, chamou atenção Rafaela Bruno.
Os mosquitos machos conseguem viver no campo de 15 a 30 dias. A fêmea se alimenta de açúcar e sangue e o macho só come açúcar. O sangue que a fêmea se alimenta é preferencialmente de humanos, pois é o melhor para o desenvolvimento dos seus ovos e pode voar até 300 metros para encontrar hospedeiros e criadouros. A fêmea do Aedes aegypti quando se alimenta de sangue, repousa, pois fica muito pesada. Ela consegue comer até duas vezes o seu peso em sangue.
“Vale destacar que ao picar o homem, ela consegue eficiência, pois sua saliva contém substâncias anestésicas, anticoagulantes e vasodilatadoras. Ela localiza o hospedeiro através do gás carbônico e ácido lático que exalamos. Pelas “antenas” em sua cabeça, consegue localizar o vaso sanguíneo e assim obter êxito em sua alimentação”, assegurou a pesquisadora. Rafaela disse também que a fêmea consegue picar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, fato importante numa transmissão de vírus.
Reprodução
Cada fêmea do Aedes aegypti pode colocar até 100 ovos em cada desova, mas nem todos chegam à fase adulta e nem todos são fêmeas. Cada fêmea consegue fazer uma desova a cada três ou quatro dias. Ela também pode espalhar por até cinco criadouros diferentes seus ovos. O Aedes aegypti voa em média de 100 a 300 metros de distância em relação ao local onde nasceu, num raio de um a três quarteirões. Ele voa justamente porque precisa de sangue (no caso da fêmea) para amadurecer seus ovos e depois precisa de um local para colocá-los. O mosquito Aedes aegypti tem hábitos diurnos, mas eventualmente pode se estender até certas horas da noite, porque o homem está mudando de comportamento. É bom lembrar que o Aedes é um mosquito oportunista e usa todas as brechas que achar para encontrar seu hospedeiro.
“Ao picar, o mosquito prefere as pernas, porém pode picar também nos braços, nas mãos, barriga e rosto”, enfatizou, justificando também ao ser questionada que ainda não existe na literatura cientifica nada que explique o por que de muitas pessoas serem picadas várias vezes pelo Aedes e outras não.

Conceição Maria dos Santos, especial para o Jornal da Ciência