A confiança dos brasileiros na ciência foi tema de mesa-redonda durante a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O debate contou com a participação das pesquisadoras Luisa Massarani, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, e Vanessa Oliveira Fagundes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Elas coordenaram trabalhos que investigaram a interação dos brasileiros com informações científicas durante a pandemia e o nível de confiança na ciência e nos pesquisadores.
Massarani apresentou dados de um estudo sobre a ‘instrumentalização’ do WhatsApp em torno de compartilhamento de artigos científicos sobre a vacina contra covid-19 em grupos do aplicativo em 2022. Segundo ela, a pesquisa demonstrou que a distorção do conteúdo acontecia quando os usuários davam novos sentidos às conclusões do material compartilhado.
“Embora os estudos que circulavam nas redes esclarecessem em seu resumo que relatos de efeitos adversos graves após a vacinação são extremamente raros, eles foram utilizados para relacioná-la ao desenvolvimento de doenças do coração, doenças autoimunes, infecção descontrolada de células saudáveis e alteração do DNA após a vacinação”, comentou.
Segundo a pesquisadora, a dinâmica de compartilhamento no aplicativo aponta para uma interação mais complexa do que unicamente a atuação de um movimento anticiência organizado. “O estudo mostra que os contextos de espalhamento da desinformação na contemporaneidade vão muito além da simples intenção de enganar, podendo estar associado a simplificações e distorções de resultados científicos e a disputas de sentido em torno da ciência”, disse.
Já o trabalho “Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia”, apresentado por Vanessa Oliveira, mediu o quanto que os brasileiros acreditam na ciência e nos cientistas. Outras questões do estudo, que foi conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT), buscaram também opiniões em relação a vacinas e mudanças climáticas.
Realizado por meio de entrevistas domiciliares, pessoais e individuais, usando a técnica de survey, o estudo aponta ainda que a maioria dos brasileiros acredita que as mudanças climáticas estão acontecendo e têm como causa a ação humana.
Os resultados demonstraram que a maioria dos brasileiros confia na ciência e possui opiniões favoráveis à vacinação e aos imunizantes. A maioria dos entrevistados (68,9%) declarou confiar ou confiar muito na ciência.
A survey quis saber também sobre nomes de cientistas e instituições de ciência brasileiros mais lembrados. Dos entrevistados, 8% disseram conhecer o nome de um cientista brasileiro, estando os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas entre os mais citados.
“Pelos dados, os brasileiros confiam na ciência. A ciência é vista como benéfica para a população. Mas essa confiança não é ingênua e é multidimensional. Há vários fatores que vão além de informação. Para nós, como pesquisadores, comunicadores, é fundamental saber construir essas pontes e conseguir atingir essa diversidade que a gente tem no Brasil”, afirma Fagundes.
Veja aqui o debate na íntegra.
Vivian Costa – Jornal da Ciência