A economia gerada por atividades que dependem dos oceanos movimenta estimados US$ 3 trilhões anuais, com cerca de três bilhões de pessoas dependendo deles para se alimentar e 60 milhões para trabalhar. Ou seja, se fossem um país, os oceanos estariam entre os cinco mais ricos do mundo.
Os números são da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) das Nações Unidas e foram apresentados nesta sexta-feira (29/7) pelo biólogo e ecólogo Glauco Kimura de Freitas. Executivo (Project Officer) do setor de ciências naturais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), especialista em gestão de águas, Freitas foi o convidado da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para a conferência “Os desafios na Década dos Oceanos e o papel da ciência e da tecnologia”. O evento fez parte da grade do último dia da programação científica da 74ª Reunião Anual da SBPC e foi apresentado pelo vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo.
A importância dos oceanos e a constatação dos riscos e ameaças, com o comprometimento da estrutura e funcionamento destes ecossistemas, além de um claro declínio da biodiversidade marinha, foram os motivos que levaram, em 2020, à instituição da Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável.
A entidade constatou também um enorme desconhecimento sobre esses ecossistemas. “Só 19% do fundo do mar está mapeado e conhecido”, informou Freitas, e completou: “Conhecemos mais a superfície da Lua que o fundo do mar.”
Segundo Freitas, os organizadores da mobilização contam com a ciência para reverter essa realidade, mas se depararam com o fato de que menos de 2% dos orçamentos de pesquisa científica no mundo vão para oceanos. O Brasil não investe nem 1% em ciência oceânica, apesar de ter 19% do Produto Interno Bruto (PIB) ligado à chamada economia azul (setores de transportes, pesca, petróleo, lazer, turismo e outros).
A meta da Década dos Oceanos é atingir em 2030 um oceano limpo, saudável, resiliente, produtivo, seguro e acessível. Para isso, foram definidos três objetivos: o aumento da capacidade da ciência oceânica; capacitação e geração de conhecimento; estímulo ao desenvolvimento de soluções sustentáveis.
Freitas destacou que a Unesco está destinando mais de R$ 148 milhões para incentivar a pesquisa cientifica brasileira sobre oceanos e a Antártida. Os recursos estão sendo empregados em aberturas de chamadas públicas, contratação de projetos e incremento da estrutura de pesquisa. Também será criado um Instituto Nacional do Mar e contratados projetos para enfrentar o derramamento de óleo na costa e poluição por plásticos.
Jornal da Ciência