No início do ano, o Fórum Econômico Mundial (WEF) divulgou seu relatório anual sobre percepção de riscos globais no qual a desinformação despontou em segundo lugar depois da emergência climática. Na visão de 1.500 líderes globais nas empresas, nos governos, na academia, na comunidade internacional e na sociedade civil pesquisados pelo WEF no ano passado, desinformação e notícias falsas (fake news), turbinadas pela Inteligência Artificial (IA), tendem a gerar um cenário distópico de agitação social com protestos violentos, crimes de ódio, confrontos civis e até terrorismo.
O relatório do WEF é relevante por refletir a visão da elite mundial, mas outras pesquisas com públicos distintos têm levado a visões semelhantes, como relatou Ana Regina Barros Rêgo Leal, professora associada do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Piauí (UFPI), idealizadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCd) e ex-presidente da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Socicom).
Em palestra dia 7 de outubro, por ocasião do “Dia de Luta pela Democracia Brasileira”, promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Leal falou da percepção de crescente apoio à extrema direita, autocracias e governos ditatoriais apontada em dados e estudos em vários países, dos EUA ao Reino Unido, da Alemanha à Índia.
Ela destacou um relatório recente da Economist Intelligence Unit (EIU – divisão de pesquisa e análise do Economist Group, empresa de mídia com sede em Londres que edita a revista The Economist –, que mostra uma queda de 11% para 7,8% da população mundial vivendo em democracias plenas, de 2011 para 2024. O estudo da EIU analisa 60 indicadores classificados em cinco categorias incluindo pluralismo, liberdades civis e cultura política, em 25 países.
Em outro relatório, da Universidade de Gottenburgo, na Suécia, com uma metodologia diferente da EIU, são citados 42 países em processo de autocratização e 18 em processo de democratização. Nestes e em outros trabalhos como o do Fórum Econômico Mundial, o ponto em comum é a relação entre a desinformação e as mudanças democráticas.
“A questão da desinformação, sobretudo dentro de uma sociedade incluída digitalmente, em um capitalismo tecnológico, termina por perpassar diversos outros estudos, incluindo o meio ambiente, porque a desinformação nessa área também é bem complicada”, comentou Leal.
A desinformação atinge diferentes esferas, áreas do conhecimento, setores da sociedade e, na visão de Thaiane Moreira de Oliveira, professora do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e do programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), é difícil mensurar em qual área o impacto da desinformação é maior.
“É evidente que a desinformação política acaba tendo uma visibilidade muito grande por impactar diretamente a vida dos cidadãos, no entanto, a desinformação em saúde, em ciência,em meio ambiente permanece sendo uma grande preocupação global”, disse Oliveira em entrevista ao Jornal da Ciência.
Nas próximas páginas, o Jornal da Ciência traz entrevistas, análises e dados apontando os efeitos e também as soluções que estão sendo desenvolvidas para mitigar os impactos da desinformação em várias áreas.
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