O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, falou sobre a intensa atuação da entidade no enfrentamento da pandemia de coronavírus e seus impactos, em defesa de recursos para CT&I, da liberdade de expressão dos pesquisadores, e em ações pelo meio ambiente, educação, entre outras, em entrevista ao programa Tertúlia, da TV Democracia. Com apresentação do jornalista Fabio Pannunzio, o programa foi ao ar na manhã desta quinta-feira, 8 de abril.
A entidade vem se posicionando firmemente desde o início da pandemia e se uniu a entidades científicas, acadêmicas e da sociedade civil em grandes frentes de defesa nas questões mais urgentes neste momento: a vida, a saúde e o SUS, a vacinação gratuita para todos, solidariedade aos mais atingidos pela crise econômica, o meio ambiente, a democracia, a ciência, a educação, etc.
“A SBPC ajudou a criar a Frente Pela Vida, ao Pacto pela Vida e pelo Brasil, que reúne a OAB, CNBB, ABC, ABI e Comissão Arns. Fizemos várias manifestações o ano passado e a mais recente chamada “O povo não pode pagar com a vida“, na qual responsabilizamos diretamente o Governo por essa tragédia”, disse.
Moreira ressaltou que no momento é fundamental que instituições e organizações de diversas áreas somem forças. “Estamos do lado das pessoas que estão lutando firmemente contra a pandemia, contra o negacionismo, com dezenas de manifestações”, reiterou.
O presidente da SBPC citou, entre diversos exemplos, que junto a organizações da sociedade civil, como o Centro Santos Dias de Direitos Humanos, CJP-SP (Comissão Justiça e Paz de São Paulo), Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Instituto Ethos, Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e Oxfam Brasil, a entidade apresentou uma representação ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público de Contas do TCU (Tribunal de Contas da União) contra o Governo Federal, pedindo investigação e adoção de medidas legais contra inúmeras situações de inércia da União Federal no combate à pandemia de covid-19 que está em andamento.
Moreira frisou o posicionamento veemente da SBPC contra a adoção de protocolos médicos sem comprovação científica para o tratamento de pacientes com covid-19. “Temos críticas públicas e diretas contra o tratamento precoce. Inclusive realizamos lives com a Associação Médica Brasileira (AMB), com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia Nacional de Medicina (AMN) em que esse ponto foi criticado abertamente. Nossa posição é clara sobre isso desde o início. Somos a favor do isolamento. Recentemente, a Frente pela Vida, da qual fazemos parte, se manifestou a favor de um lockdown de 21 dias para deter esse contágio acelerado“, afirmou. Moreira também destacou que a entidade se pronunciou contra governadores que são a favor do tratamento precoce, como em Santa Catarina, Distrito Federal e Ceará.
A SBPC, conforme expôs Moreira, está atenta a vários ataques contra a comunidade científica, como a imposição de censura à produção acadêmica de servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), perseguição aos cientistas e falta de transparência na divulgação de dados importantes para que a sociedade tenha melhor conhecimento dos fatos. “Muito do que está na Constituição Federal Brasileira hoje, em defesa da ciência e da liberdade de expressão, foi uma construção da qual participou a SBPC. A entidade teve uma atuação muito intensa nessa elaboração. As notas de repúdio são ações importantes contra ameaças à liberdade de expressão, e vamos continuar fazendo. Mas elaboramos também muitas notas técnicas, propostas construtivas. A SBPC critica, mas, ao mesmo tempo, também traz propostas concretas, como já fizemos para o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ao Ministério do Meio Ambiente, entre tantos outros assuntos”, afirmou.
Ao abordar a luta da SBPC por recursos, Moreira ressaltou que as ações da entidade extrapolam a questão do orçamento para CT&I, Saúde e Educação no País, e que só com investimentos nessas áreas será possível o País superar a crise financeira e sanitária aprofundada pela pandemia. “É uma luta para termos recursos para, por exemplo, desenvolvermos vacinas e testes necessários em toda a população e para que a indústria farmacêutica brasileira possa se desenvolver. Ciência e tecnologia são fundamentais para isso”, finalizou.
No início de janeiro, o Jornal da Ciência publicou uma retrospectiva com as principais ações, manifestações e realizações da SBPC e suas secretarias regionais ao longo de 2020. A reportagem, “Do luto à luta”, foi citada na entrevista desta quinta-feira e o conteúdo completo pode ser acessado neste link.
Confira a entrevista na íntegra: Programa Tertúlia/TV Democracia
Jornal da Ciência