“Na década de 1950, a primeira vez que Cesar Lattes cruzou meu caminho foi através de uma imagem na revista Cruzeiro, onde ele foi capturado pela lente em Recife. Naquela época, eu estava cursando o ginásio, sem imaginar que décadas mais tarde estaria envolvido nas pesquisas da Colaboração Brasil-Japão de Raios Cósmicos (CBJ)”, relembra Edison Hiroyuki Shibuya, professor aposentado do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp. Em seu depoimento para a nova edição da Ciência & Cultura, que celebra o centenário de César Lattes, o pesquisador conta sobre sua convivência, seu aprendizado e sua amizade com o físico brasileiro.
A conexão entre Edison Shibuya e Cesar Lattes cresceu através do tempo, e logo ele se viu trabalhando ao seu lado na Unicamp. Sua abordagem de ensino, influenciada por mestres como Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini, era única e desafiadora, estimulando o raciocínio crítico dos alunos. Apesar de sua fama e múltiplas responsabilidades, Lattes sempre encontrava tempo para apoiar colegas e amigos, como fez ao defender a renovação do contrato de um ex-professor.
O reconhecimento de Lattes na comunidade científica foi notável, mesmo que o Prêmio Nobel de Física tenha lhe escapado, apesar de sete indicações até 1964, afirma o pesquisador. Sua contribuição para a detecção do píon, especialmente ao solicitar à empresa Ilford a inclusão de boro em emulsões nucleares, foi fundamental. Isso permitiu a observação estável das trajetórias das partículas, levando à descoberta dos píons em Bristol, em 1947. “Só em uma noite, Cesar observou uma dúzia de píons positivos e negativos. Tudo indica que essa foi a primeira vez que se observou o fenômeno da fotoprodução de píons”, pontua Edison Shibuya.
A busca incessante por novos fenômenos levou Lattes ao acelerador de partículas em Berkeley, onde ele e Eugene Gardner observaram os píons positivos e negativos pela primeira vez. Essa observação crucial abriu caminho para o estudo da fotoprodução de píons e consolidou seu lugar na história da física de partículas. Mesmo após sua aposentadoria, Lattes continuou a influenciar a pesquisa na área de raios cósmicos, com o reconhecimento oficial de seu trabalho pelo governo brasileiro em 2011.
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