Cooperação internacional: Brasil tem que fazer o dever de casa, alerta presidente da Embrapii

Para Jorge Almeida Guimarães, o país precisa de um plano de longo prazo para CT&I que garanta os investimentos e as parcerias com o setor privado. Só assim, “terá o que oferecer” em cooperações internacionais que sejam, de fato, úteis para o avanço tecnológico nacional

Em 30 anos, o Brasil avançou muito na publicação de artigos em periódicos internacionais, o que serviu para aumentar a visibilidade do país no mundo científico. Mas, para o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Jorge Almeida Guimarães, ainda é preciso muito planejamento e trabalho para que o Brasil consolide sua participação na produção científica mundial e dê um passo adiante nas cooperações internacionais. A começar pela construção de um sistema que permita ao Brasil buscar um posto na “primeira liga” dos países inovadores.

Países com alto índice de inovação têm características comuns: investimentos públicos acima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), mais de 3 mil cientistas e engenheiros a cada milhão de habitantes e uma participação do capital privado acima de 70% nos investimentos nacionais em P&D. No Brasil, estes índices ainda estão bem abaixo do desejável: 1,2% do PIB para CT&I, 700 pesquisadores por milhão e 60% de recursos privados. E esses dados refletem a realidade de 2013, antes dos brutais cortes aplicados no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia. “Ou seja, meus jovens, não falta perspectiva. A não ser que o país não tome jeito”, constatou Guimarães na conferência “A Cooperação Internacional e o Impacto na Ciência”, realizada nessa terça, 18, durante a 69ª Reunião Anual da SBPC.

A falta de visão estratégica brasileira no campo da pesquisa e desenvolvimento tem impacto direto na qualidade de vida da população, refletido no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Neste contexto, a Embrapii – criada há apenas quatro anos – tem um papel crucial na busca por um caminho que renda benefícios para o país por meio da pesquisa em parceria entre instituições de pesquisa e a iniciativa privada. Hoje, a empresa toca 142 projetos de pesquisa aplicada em áreas de grande relevância para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, como aeronáutica, petróleo e gás, química e nas engenharias.

Cooperação deficiente

Guimarães apresentou dados que mostram uma dura realidade brasileira na cooperação internacional: nossos acordos com outros países não têm se revertido em parcerias como era esperado e a qualidade das cooperações ainda está muito aquém do desejável. “Cadê o nosso acordo com o Mercosul? Não está adiantando nada. Cadê o nosso acordo com os Brics?”, questionou o presidente da Embrapii ao mostrar tabelas que revelam que nossos vizinhos, por exemplo, praticamente não fazem nenhuma parceria conosco. “Isso (os acordos) não está adiantando nada. É só olhar os números”, sentenciou.

Ainda que os dados mostrem um cenário frágil na cooperação internacional, isso não significa que o Brasil deva abandonar o barco. Para Guimarães, a grande questão é o Brasil “fazer o dever de casa” antes de buscar parcerias fora. A tarefa em questão é investir em P&D na cadeia do conhecimento, focando continuamente na ciência, tecnologia e inovação. “Se não tiver um projeto de fato, um projeto de internacionalização, a tendência é só piorar”, ressaltou a presidente da SBPC, Helena Nader, que mediou os debates da conferência.

Mariana Mazza – para o Jornal da Ciência