Cortes na ciência e tecnologia são ‘ameaça à soberania nacional’, diz SBPC

Na contramão de diversas potências que investem alto em ciência, o Brasil continua cortando os investimentos na área. Seguindo uma tendência que vem desde 2015, a redução do orçamento neste ano será de 42%. Para cientista ouvido pela Sputnik Brasil, a falta de verba impacta não apenas na educação, mas também na garantia da soberania nacional

Na contramão de diversas potências que investem alto em ciência, o Brasil continua cortando os investimentos na área. Seguindo uma tendência que vem desde 2015, a redução do orçamento neste ano será de 42%. Para cientista ouvido pela Sputnik Brasil, a falta de verba impacta não apenas na educação, mas também na garantia da soberania nacional.

Durante a campanha eleitoral, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviou uma série de questionamentos para todos os presidenciáveis. Preocupada com a escassez de recursos que atinge as pastas dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, a SPBC queria respostas claras de todos os candidatos quanto ao compromisso de financiar a pesquisa e a inovação tecnológica no Brasil. De Bolsonaro, recebeu uma carta de compromisso afirmando que “dinheiro empenhado em ciência não era gasto e sim investimento” e a promessa de alocações vultuosas ao longo do mandato.

A promessa, porém, não se concretizou. O corte no orçamento aprovado pelo Congresso Nacional para este ano deve chegar a 42%, tornando ainda mais raras as concessões de bolsas de iniciação científica, modernização de laboratórios, registros de patentes e inovação nas universidades.

Tratando diretamente da questão, o físico e presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira demonstra preocupação. Para ele, o contingenciamento pode representar consequências “muito sérias” para a ciência brasileira porque compromete as nossas agências de financiamento, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

“Um corte como esse pode significar que futuramente teremos muito mais dificuldade para superar momentos de crise econômica como a que nós vivemos. A inovação no mundo inteiro depende da ciência e da tecnologia, da formação de pessoal qualificado e se isso for desmontado, comprometeremos o futuro brasileiro, impactando o meio-ambiente, a economia e a organização da vida social”, avalia o cientista.

Moreira conta já ser possível observar uma “fuga de cérebros” brasileiros para o exterior. Sem verbas para pesquisa, sofrendo com a indisponibilidade e o atraso no pagamento das bolsas de custeio e pouco incentivo na formação, jovens promissores estão migrando para outros países e levando na bagagem conhecimentos essenciais para produção de tecnologia que poderia ficar em solo nacional caso a situação fosse outra.

“Alunos brasileiros de ponta que já estão exterior também estão pensando duas vezes antes de voltar. Mesmo os pesquisadores experientes já foram [embora] por conta deste quadro. É um desestímulo muito grande quando se retira os recursos básicos compra de equipamento, bolsas de iniciação científica, etc. Se o CNPq já sofre com o orçamento muito baixo, ameaçando a continuidade das bolsas já a partir de agosto, sofrendo um corte adicional configura-se uma situação muito grave”, preocupa-se Ildeu.

O professor vai além: acredita que não aplicar dinheiro em pesquisa representa “até mesmo ameaça a soberania nacional, porque o país que não produz tecnologia fica submetido a inferência dos outros”. Ele defende que investir em ciência é o caminho natural de todas as nações em crise, porque uma base de pesquisa sólida pode ajudar em uma serie de fatores: na “criação de novos produtos, redução de custos de outras áreas, promoção do uso mais racional e eficiente da energia, etc”.

“Temos um diálogo muito aberto com o ministro [da Ciência e Tecnologia] Marcos Pontes, temos um debate marcado em Brasília para o dia 9 de maio, já interagimos bastante e ele está ciente do grave momento que estamos vivendo. O fato é que o que tem predominado em termos de decisão de alocação orçamentária é a equipe econômica e aí certamente estamos sendo muito prejudicados”.

Até maio, pesquisadores e ministro devem permanecer em diálogo. O governo, por enquanto, não se manifestou publicamente sobre o corte de verbas, capitaneado pela Pasta comandada por Paulo Guedes.

Brasil 247