A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, discursou nesta semana, em São Paulo (SP), sobre a situação da ciência no Brasil, durante a sessão de abertura da XV Reunião Anual da Rede Nacional Leopoldo de Meis de Educação e Ciência (RNLMEC). Com os cortes sucessivos dos recursos para educação e ciência, tecnologia e inovação (CT&I), a tendência, segundo observou Nader, “é que a qualidade das pesquisas brasileiras sofra uma queda”.
Conforme as informações trazidas pela presidente, a qualidade da produção científica do Brasil ocupa a 17ª posição no Global Citation Index, o ranking de publicações com mais citações. Contudo, no quesito inovação, o Brasil caiu seis posições no ranking Global Innovation Index 2016, desde 2013, amargando o 69º lugar, entre 140 países. A queda é atribuída ao ambiente econômico, que prejudica a relação entre universidades e empresas.
Nader avaliou que o Brasil tem ficado para trás em relação a outros países como a China, a Índia, a África do Sul e a Rússia, que acreditam que o desenvolvimento científico e tecnológico é fundamental para contornar crises econômicas. Enquanto países como Coreia do Sul e Israel investem mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em CT&I, a porcentagem no Brasil não chega a 1,5%, e a maior parte desse investimento é do governo.
“Quando se trata da participação empresarial nesses recursos, eles vêm da Petrobras, da Vale, de empresas cuja maior parte do capital é estatal”, apontou Helena Nader. “O financiamento das empresas em CT&I é pífio no Brasil. Na Coreia, as empresas contribuem com mais de 70% do total do investimento em CT&I. Os países desenvolvidos investem mais de 2% do seu PIB em ciência e tecnologia. É com isso que temos que competir”, exclamou.
Enquanto isso, o governo federal cortou quase pela metade o orçamento de 2017 do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em relação à previsão inicial na Lei Orçamentária Anual (LOA). Segundo Nader, a pasta deveria receber R$15 bilhões neste ano. Mas, desse montante, cerca de R$5,5 bilhões são destinados, obrigatoriamente, para gastos com pessoal e outras despesas fixas.
“Ou seja, o que o MCTIC tinha era, na verdade, R$10 bilhões. E, se com a LOA, R$5 bilhões foram bloqueados como reservas contingenciadas, isso significa que o MCTIC teve um corte de 50% de sua verba”, alertou a cientista.
A presidente ressaltou ainda que a SBPC continua na luta contra a fusão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações, porém, advertiu que é necessário restabelecer o orçamento da pasta: “Não adianta nos devolverem um ministério depenado como ele está”, comentou.
Formação
Para ela, há necessidade de discutir com alunos, nas salas de aula, a importância do papel da ciência para o desenvolvimento do país, e da formação de recursos humanos na cadeia do desenvolvimento científico e tecnológico nacional, e diagnosticou que as falhas de formação precisam ser observadas desde o ensino fundamental.
Conforme os recentes resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), que avalia estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental, o desempenho dos alunos brasileiros caiu desde a edição anterior, de 2012, colocando o Brasil na 59ª posição em leitura, 63ª em ciências e 66ª em matemática. “Nas três disciplinas ficamos abaixo da média da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. Isso é uma aberração, porque esse estudante que vai chegar à universidade com um déficit. E a graduação deverá suprir essa falha. Isso tem que mudar”, afirmou.
A presidente da SBPC também contou que, apesar da grande expansão das universidades públicas, 75% do contingente de universitários continua concentrado nas instituições privadas. Além disso, nas universidades federais o índice de evasão dos estudantes, entre o 2º e o 3º ano, é altíssimo, de acordo com Nader. Cerca de 50% dos ingressantes desistem dos cursos. “Em algum momento temos que ver o que estamos fazendo com os cursos nas universidades”, alertou.
Já na pós-graduação, ela mostrou que, entre 1998 e 2015, houve uma grande melhora na distribuição dos programas pelas diferentes regiões do país. Porém, quando se observa os programas que tiveram notas de excelência, as diferenças gritam: 84% das universidades que possuem pós-graduação com esse nível estão no Sudeste; enquanto que na região Norte, nenhum programa atingiu esse conceito ainda. “São diferenças graves na qualificação profissional pelo país. Precisamos ter competências em todas as regiões”, ponderou.