Cortes Quânticos

Em artigo da nova edição da Ciência & Cultura, Renan Siqueira da Silva, pesquisador colaborador da Universidade Federal do ABC, discute percepção, mediação e encantamento no cinema e na física

WhatsApp Image 2025-06-03 at 09.05.27No início do século XX, dois acontecimentos transformaram radicalmente a maneira como percebemos e representamos a realidade: o surgimento do Cinema e o desenvolvimento da Física Quântica. Embora pertençam a esferas distintas — a Arte e a Ciência — esses campos compartilham notáveis semelhanças em suas trajetórias históricas e nos modos como mediamos e interpretamos o mundo. Isso é o que discute artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que celebra o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas.

Tanto o Cinema quanto a Física Quântica nasceram de um mesmo contexto tecnológico e científico, impulsionado por avanços significativos em óptica, eletricidade e processos industriais que redefiniram formas de ver e representar o mundo. O cinema não surgiu espontaneamente, mas a partir da convergência de invenções como a fotografia, os estudos sobre o movimento e práticas narrativas do teatro — um período conhecido como pré-cinema. Já a Física Quântica emergiu das tentativas de diversos cientistas em resolver problemas que a Física Clássica não conseguia explicar. “Os precursores não previram o quão disruptivo cada empreendimento seria para cada campo do saber”, ressalta Renan Siqueira da Silva, doutor em Ensino e História das Ciências pela Universidade Federal do ABC e licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP).

Hoje, a relação entre a Física Quântica e o Cinema se evidencia, entre outros aspectos, no fascínio do público pelos filmes de ficção científica. Mas por que essas produções atraem tanto? Acredita-se que a física quântica oferece um raro misto de assombro intelectual e possibilidade radical: ela sugere que a realidade pode ser mais estranha, mais flexível e cheia de potencial do que aquilo que nossos sentidos indicam. O sucesso desses filmes revela um desejo humano fundamental: compreender o incompreensível e, simultaneamente, escapar das limitações do mundo tradicional, ainda que por meio de metáforas imperfeitas.

Celebrar o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas é também celebrar esse impulso humano comum — presente tanto nos experimentos científicos quanto nas narrativas cinematográficas — de decifrar e “reencantar” a realidade. Contudo, é preciso estar atento: nem todo encantamento é benéfico. A apropriação acrítica dos conceitos da Física Quântica, como ocorre no chamado “misticismo quântico”, transforma ideias rigorosas, como emaranhamento e superposição, em slogans vazios que alimentam pseudociências e terapias duvidosas. Esse risco também existe no Cinema, onde a ausência de letramento midiático pode levar à aceitação acrítica de versões distorcidas da ciência, moldando subjetividades e crenças equivocadas. A quântica oferece um raro misto de assombro intelectual e possibilidade radical”, finaliza Renan Siqueira da Silva.

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