Uma democracia não pode ser entendida apenas como uma forma de governo, nem só como um regime estritamente político. Trata-se de um sistema que se expande pela vida das pessoas, com potencial para atingir o mundo dos afetos, dos amores, das amizades, definiu o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro.
Filósofo, professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Janine Ribeiro proferiu a conferência “Os potenciais da Democracia” durante a “Mobilização em Defesa da Ciência”, realizada na última terça-feira (26).
Em sua exposição, ele traçou um histórico da democracia no mundo desde seu surgimento na Grécia, por volta do século 5 antes de Cristo, até os dias atuais, passando pelos eventos mais marcantes e as transformações trazidas pela era das Revoluções, no século XVIII, quando se consolida a ideia da democracia representativa.
Um dos maiores desafios das democracias atualmente é a redução das desigualdades econômicas e sociais, oferecendo oportunidades iguais às pessoas, reduzindo a miséria, afirmou Janine Ribeiro. “A ideia de uma democracia social passa muito pelo fim da pobreza, por aumento de oportunidades e o que alguns chamariam simplificadamente da criação de uma sociedade de classe média, de relativa igualdade, com um nível de dignidade para todos”.
A expansão da democracia por todos os campos é o que o presidente da SBPC chamou de “potenciais”. “A democracia abre um espaço para se expandir a esfera social”, afirmou, acrescentando que, quando a democracia é garantida, também se garante o espaço para reivindicação dos direitos das mulheres, das crianças, das pessoas em geral, e para a recusa aos preconceitos.
Mas também há limites, localizados nos que são contrários às igualdades. “A democracia é uma luta, temos que lutar para fortalecê-la e essa jornada pela ciência e educação faz parte disso, queremos que a democracia valha e para isso ela tem que abrir espaço para um conhecimento cada vez mais rico do mundo, que a ciência traz, com uma prosperidade maior, que a tecnologia proporcionada pela ciência traz e para pessoas mais qualificadas, para terem vida profissional boa e fazer escolhas melhores, que a educação traz”, concluiu.
A “Mobilização em Defesa da Ciência” tem por objetivo pressionar o governo e os parlamentares pela recomposição do orçamento da CT&I. O Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) é hoje a principal fonte de financiamento da pesquisa científica no país. O corte e contingenciamento das verbas do FNDCT prejudicam principalmente o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que perdeu mais de R$ 600 milhões de seu orçamento. As entidades também solicitam a liberação dos R$ 2,7 bilhões que ainda restam do FNDCT no ano em curso.
Assista à apresentação do professor Renato Janine Ribeiro na íntegra, no canal da SBPC no YouTube.
Janes Rocha – Jornal da Ciência