As mudanças climáticas são um fenômeno global, mas que exigem respostas locais. No caso de Natal (RN), a governança ambiental e climática enfrenta sérios desafios que comprometem o equilíbrio socioambiental da cidade no presente e no futuro. A revisão do Plano Diretor, em 2022, e projetos de urbanização como a engorda da orla de Ponta Negra evidenciam a falta de transparência e de participação social em decisões que afetam diretamente a resiliência urbana. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.
Essa condução revela uma concepção de cidade marcada pela fragmentação, por desigualdades territoriais e pela fragilização da gestão compartilhada. Nos últimos anos, a proteção ambiental e a adaptação climática não orientaram de maneira efetiva as ações do poder público municipal. Embora a mobilização social e acadêmica — com destaque para fóruns, coletivos e iniciativas da UFRN — tenha alertado sobre os riscos e vulnerabilidades da capital potiguar, o espaço para participação popular permanece limitado. “As cidades brasileiras contam com poucas iniciativas que integrem planejamento urbano com ações ambientais e climáticas de mitigação, adaptação e redução de riscos”, afirma Zoraide Souza Pessoa, professora do Instituto de Políticas Públicas (IPP) e coordenadora do Programa de Pós Graduação em Estudos Urbanos e Regionais (PPEUR) e Laboratório Interdisciplinar Sociedades Ambientes e Territórios (LISAT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O quadro é agravado pela continuidade de um mesmo padrão de gestão ambiental, com a permanência do mesmo secretário na pasta de meio ambiente e urbanismo desde 2019, atravessando diferentes administrações. Essa estabilidade, longe de consolidar avanços, tem reforçado uma política pouco voltada para a mitigação das emissões, a redução de riscos e a adoção de medidas adaptativas. Sem engajamento público efetivo e vontade política, as estratégias de enfrentamento da crise climática em Natal permanecem incipientes.
A experiência da capital potiguar reflete um problema mais amplo das cidades brasileiras: arranjos institucionais frágeis e desarticulados, que comprometem a capacidade de resposta às mudanças climáticas. Apesar de iniciativas sociais e acadêmicas que buscam fortalecer a pauta, a ausência de políticas consistentes e inclusivas mantém a cidade vulnerável. “É crucial agir sobre as vulnerabilidades sociais e ambientais para reduzir riscos associados às mudanças climáticas”, enfatiza Zoraide Pessoa.
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