Estações secas cada vez mais longas e de chuvas, mais curtas. Este é o sinal de que a Amazônia está entrando em um ponto de não-retorno, rumo à savanização, afirmou nesta quarta-feira o cientista do clima Carlos Nobre, durante conferência na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Curitiba.
Coordenada pelo vice-presidente da SBPC e também cientista do clima, Paulo Artaxo, a conferência evidenciou o alerta de Nobre para a grave situação da floresta Amazônica que, segundo ele, já perdeu 18% de sua cobertura por derrubada de árvores e incêndios nos últimos 40 anos. O fenômeno tem consequências globais – não apenas para os brasileiros ou sul americanos –, desde o aquecimento das temperaturas em todo planeta, até o risco de novas pandemias, já que vírus existentes apenas dentro da floresta, estão deixando o ecossistema devido ao desmatamento.
“A degradação florestal aumentou muito nos últimos anos”, reiterou Nobre, lembrando que grande parte da destruição é causada pela atividade pecuária. O desmatamento no Brasil é apontado pelos cientistas como um dos causadores do aquecimento global, junto às emissões industriais e o uso de combustíveis fósseis nos países mais desenvolvidos.
Nobre alertou que as temperaturas globais médias já se elevaram em 1,15°C nos últimos anos e que, a seguir neste ritmo, tornará “impossível” o cumprimento do Acordo de Paris.
Assinado em 2015, durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da Organização das Nações Unidas, por 195 países, o Acordo de Paris tem o compromisso de manter o aumento da temperatura média global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até 2030.
Carlos Nobre apontou a “bioeconomia da floresta em pé e rios fluindo” como uma alternativa sustentável de desenvolvimento para a região. Falou ainda das iniciativas que já vem sendo tomadas para mudar o foco produtivo atual de commodities para produtos de base agroflorestal mais lucrativos em projetos como o Amazônia 4.0.
Para ele, no entanto, qualquer solução, tanto socioeconômica quanto de enfrentamento ao aquecimento global, deve ser baseada em Ciência, Tecnologia e Inovação. Nesse sentido, ele anunciou o avanço dos estudos de viabilidade do Instituto de Tecnologia da Amazônia (AmIT), que tem como objetivo transformar conhecimentos científicos e tradicionais em inovação tecnológica em prol da conservação da floresta. “A ideia é fazer um MIT na Amazônia”, disse o cientista, referindo-se ao Massachussets Institute of Technologies, nos Estados Unidos, centro de excelência em CT&I mundial.
Janes Rocha – Jornal da Ciência