Leia a íntegra:
Dicas para o Dia de Luta pela Democracia Brasileira
- Esta não é uma manifestação de esquerda. É de todos os democratas. Só saímos da ditadura, em 1985, e do seu arremedo no ano passado, porque se uniram não só a esquerda mas também a direita democrática. Sem Alckmin e Tebet, por exemplo, não teríamos extirpado o verme do ódio.
- O principal a fazer é a educação política. Isso não quer dizer doutrinação! Mas de uma reação saudável à percepção de que muitos jovens, que não viveram a ditadura, acreditaram que ditadura e intervenção militares seriam uma solução para nossos problemas.
- Esse problema não é só nosso, é mundial. Nos Estados Unidos, na Itália e na Índia, na Rússia e um pouco em toda a parte, está crescendo um descontentamento visceral com a democracia, porque ela tem sido pouco capaz de entregar o que a sociedade deseja. Mas a solução para isso não é menos, é mais democracia.
- Nossa prioridade deve ser educar. Isso quer dizer: na educação infantil, fortalecer a cooperação. Crianças pequenas devem brincar, e assim aprender o convívio em sociedade. Aliás, o principal papel da escola não é atulhar a cabeça das crianças e adolescentes, é prepara-los para a vida em sociedade. Cada um de nós nasce num quadro bem particular – uma família, religião (ou falta de), classe social, bairro – e a vida exige que seja capaz de sair dessa particularidade e compreender melhor as outras, o vasto mundo. Ensinar a respeitar o outro, pela prática (lúdica), é a primeira tarefa da educação.
- Mais tarde, já no Fundamental I e no começo do II (digamos, dos 6 aos 12 anos), pode-se ensinar o que são os direitos humanos. A criança já terá aprendido a praticá-los, no respeito ao outro, agora se pode dar nome a isso. Os direitos da Declaração de 1948 podem ser transmitidos de forma bem pedagógica, bem como os de outras declarações, a respeito das mulheres, das crianças e adolescentes e por aí vai.
- Chegando aos 13 anos, no final do Fundamental II, e continuando pelo Ensino Médio, pode-se ensinar o que é democracia: o voto, os partidos, o que são direita e esquerda, liberalismo e socialismo, competências federal, estadual e municipal, os três poderes constitucionais. Importante: não se trata de doutrinar ninguém. Mas é preciso explicar o que são os valores em competição na democracia, e como o voto arbitra entre eles.
- No ensino superior, penso que se pode reforçar tanto os direitos humanos quanto a democracia, e além disso enfatizar a responsabilidade social do estudante. Na universidade pública, ele é pago pela sociedade para estudar – por isso mesmo, não deve “privatizar” seu diploma, isto é, entender que serve apenas para subir na vida. Tem uma dívida com a sociedade, que não está em reais, mas em dedicação. Na escolha de uma profissão ou de um emprego, deve pensar no bem comum. E no ensino superior privado, isso também vale. Porque todos nós fomos formados pela sociedade! “Precisa de uma aldeia para criar uma criança”, diz um adágio moçambicano, que foi aproveitado por Hilary Clinton para dar título a um livro seu. É isso.
Vamos garantir que nunca mais o retrocesso, o ódio galvanize os corações de nosso povo!
Renato Janine Ribeiro
Presidente da SBPC
Jornal da Ciência