Na primavera de 1994, um grupo de estudantes do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da Unicamp, vivia tardes intensas, marcadas por debates acalorados sobre a mecânica quântica, recém-apresentada nas disciplinas da graduação. Nesse contexto, uma palestra do físico Luiz Davidovich, então professor da PUC-RJ, trouxe ao auditório do IFGW uma proposta concreta de teletransporte quântico — não mais ficção científica, mas uma possibilidade real de experimentação em laboratório, envolvendo átomos, cavidades ressonantes e o emaranhamento quântico. A apresentação tornou-se um marco não apenas para aqueles jovens estudantes, mas para a própria trajetória da óptica quântica no Brasil. Uma área que alia fundamentos teóricos profundos a experimentações sofisticadas, encontrava ali um equilíbrio fértil entre teoria e prática. É sobre essa trajetória que trata o artigo publicado na nova edição da revista Ciência & Cultura, que celebra o Ano Internacional da Ciência e Tecnologias Quânticas.
Pouco tempo depois, muitos desses estudantes migrariam para os principais grupos de pesquisa do país. Em artigo para a revista, Marcelo Paleólogo Elefteriadis de França Santos, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), relembra como ingressou no grupo de Óptica Quântica da UFRJ, então liderado por nomes como Moysés Nussenzveig, Nicim Zagury e o próprio Davidovich — figuras centrais na construção dessa área no Brasil. Por meio de colaborações internacionais, como a estabelecida com Serge Haroche — laureado com o Nobel de Física em 2012 — e com universidades norte-americanas, o Brasil começou a ocupar um lugar de destaque no cenário global da pesquisa em óptica quântica.
A partir dos anos 1990, a óptica quântica se expandiu significativamente no Brasil, impulsionada por programas de fomento como o PRONEX e os Institutos do Milênio. “Os anos 1990 testemunham uma expansão enorme da óptica quântica no mundo, e não foi diferente no Brasil”, explica Marcelo Santos. Novos laboratórios surgiram em universidades como USP, UFMG, UFSC, UFPE e Unicamp, consolidando um ecossistema robusto de pesquisa teórica e experimental. As gerações seguintes de pesquisadores brasileiros passaram a explorar não apenas os fundamentos da física quântica, mas também aplicações emergentes em informação e computação quântica, criptografia e sensores de alta precisão. Formou-se uma rede nacional que dialoga com os avanços internacionais, investiga propriedades do emaranhamento quântico e realiza experimentos que, até então, pertenciam apenas ao campo teórico.
Entre os jovens que assistiram àquela palestra inspiradora de 1994 estavam pesquisadores que, anos depois, se tornariam protagonistas na consolidação da informação quântica no Brasil. Em 2007, três deles — Marcelo Terra Cunha, Daniel Jonathan e o autor do artigo — criaram a Quantum Information School and Workshop, um evento bienal que reúne, em Paraty, físicos renomados e jovens cientistas brasileiros. Hoje em sua nona edição, o evento é símbolo da vitalidade da comunidade científica nacional e do caminho percorrido desde aqueles primeiros debates universitários.
Com novos desafios no horizonte, a óptica quântica brasileira segue em expansão, inspirando novas gerações a explorar os mistérios do mundo quântico e suas aplicações tecnológicas transformadoras.
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