A greve nas instituições federais de ensino superior tem gerado intensos debates e preocupações, tanto na comunidade acadêmica quanto no governo federal. Desde o começo da greve, a SBPC tem se manifestado em favor da negociação, entendendo tanto a preocupação dos servidores, professores e funcionários, por conhecer a necessidade de uma compensação da defasagem salarial produzida durante os governos Temer e Bolsonaro, quanto levando em conta as possibilidades efetivas que o governo atual tem, ao ter recolhido uma herança tão difícil para o País.
A greve, que interrompeu atividades cruciais de ensino e pesquisa, tem gerado impactos significativos não apenas na vida acadêmica, mas também na sociedade como um todo. É sabido que professores e funcionários têm desempenhado um papel fundamental na construção do conhecimento e na formação das futuras gerações, e suas genuínas demandas por melhores condições de trabalho e remuneração merecem ser ouvidas e atendidas.
Por outro lado, o governo federal, ciente das limitações orçamentárias e das complexidades econômicas deixadas pelos governos anteriores, também busca soluções que garantam a sustentabilidade financeira do país. A administração atual enfrenta a difícil tarefa de equilibrar demandas urgentes em diversas áreas, incluindo educação, saúde e infraestrutura, enquanto trabalha para recuperar a economia nacional.
É inegável que todos os envolvidos compartilham um propósito comum: melhorar a qualidade educacional do Brasil. Tanto o governo quanto os professores e funcionários em greve buscam a mesma meta de aprimorar a educação, impulsionar a pesquisa científica e, em última análise, promover o desenvolvimento do País. A divergência reside nos meios para alcançar esses fins, e é precisamente nesse ponto que a negociação e o diálogo são essenciais.
O presidente Lula tem defendido enfaticamente o fim da greve e na última semana propôs a injeção de 5 bilhões de reais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na infraestrutura das universidades federais. Esta medida é um passo significativo, uma vez que a melhoria da infraestrutura é fundamental para que as universidades prosperem em seu propósito de produzir conhecimento, ciência e tecnologia. No entanto, os sindicatos e servidores destacam que, além das melhorias estruturais, é urgente a revisão salarial e a valorização das pessoas que compõem essas instituições.
Mais que isso, causa compreensível estranheza na comunidade acadêmica, tanto entre os favoráveis quanto os contrários à greve, que o Governo proponha a criação de novos campi quando os atuais enfrentam carências significativas – que não são culpa da atual administração federal, mas que ela tem a responsabilidade de considerar.
A greve é uma manifestação legítima das insatisfações acumuladas ao longo dos anos. A compensação salarial é uma demanda justa e necessária para a dignidade desses profissionais e para a continuidade da qualidade do ensino e da pesquisa no Brasil. A ela se soma a necessidade de recompor laboratórios e bibliotecas, bem como, em certos casos, de garantir a segurança de edifícios que, por vezes, requerem reformas urgentes, como é o caso de vários prédios históricos da UFRJ.
Não podemos esquecer a triste experiência do Museu Nacional, cujo patrimônio virou pó em poucas horas, por falta de manutenção. Esse episódio deve ser contrastado com o do Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, cuja diretora o fechou, denunciando os perigos que rondavam sua instituição – assim garantindo que ele não se incendiasse e, mais que isso, que fosse reconfigurado como um sucesso da museologia brasileira.
A SBPC acredita firmemente que a diferença quanto aos meios pode ser superada por meio de uma negociação franca entre as partes envolvidas. É fundamental que o governo e os representantes dos sindicatos e das instituições se sentem à mesa de negociação com disposição para ouvir, compreender e encontrar um terreno comum. O caminho do meio, neste caso, é a melhor estratégia: ambas as partes precisam estar dispostas a ceder e chegar a um acordo que permita a retomada das atividades acadêmicas e o avanço na qualidade da educação superior no País.
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC
Veja as notas do Especial da Semana- Universidades federais
Jornal da Ciência, 10/06/2024 – Lula incentiva negociação entre governo e profissionais das instituições federais
Metrópoles, 13/06/2024 – Às vésperas de completar 2 meses, veja balanço da greve nas federais
Andes, 11/06/2024 – Pressionado pela greve, governo anuncia R$ 5,5 bi para orçamento da Educação Federal
Metrópoles, 06/06/2024 – Presidente da Andifes: universidades não têm verba para fechar o ano
JCN – Carta aberta do Conif ao presidente Lula sobre a greve
CBN, 13/06/2024 – Greve afeta estudantes de universidades federais; entenda os impactos
Estadão, 10/06/2024 – Por que governo Lula estuda rever estratégia na greve das universidades federais?
Andes – Docentes federais em greve realizam caravanas a Brasília nesta sexta-feira
O Globo, 08/06/2024 – Por que os professores da UFRJ, maior universidade federal do País, não estão em greve?
Jornal GGN, 07/05/2024 – Por que estamos em greve nas Universidades Federais?
Jornal GGN, 18/04/2024 – A greve dos professores das Universidades federais, por Daniel Afonso da Silva
Folha de S. Paulo, 11/06/2024 – Reitor da UFBA diz que universidade precisa sanar problemas antes de expansão anunciada por Lula
Nexo, 11/06/2024 – “Negar reajuste em universidades é rota iníqua de ajuste fiscal”
Extra, 12/06/2024 – Educação: sindicatos veem avanço em proposta do governo, mas não cogitam encerrar greve nas federais nesta semana
Folha de S. Paulo – Unifesp só tem dinheiro para funcionar até setembro, diz reitora
Nexo – A crise de legitimidade da universidade brasileira
Brasil de Fato, 13/06/2024 – A influência da mídia nas greves das universidades federais
Andes, 10/06/2024 – Mulheres e pessoas aposentadas serão as mais impactadas por reajuste 0% em 2024 imposto pelo governo federal