EDITORIAL: Brasil, país do futuro?

A pergunta que dá título a este editorial é um clichê, mas continua atual: que futuro queremos — e o que estamos fazendo, de fato, para construí-lo?

Hoje, há uma série de políticas públicas em curso que apontam para um horizonte mais promissor — e, em grande parte, viável. Projetos como a Estratégia Brasil 2050, a Nova Indústria Brasil, a política de transição energética, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial e a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2026–2035 indicam caminhos para um país mais verde, mais produtivo e mais tecnológico. Um país que pode voltar a crescer com inclusão e sustentabilidade. Mas nada disso se sustenta sem uma base sólida de conhecimento e coesão política.

A recente 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI) e seu principal produto, o Livro Violeta, expressam o consenso da comunidade científica: não se separa ciência de educação, nem inovação de inclusão social. O conhecimento precisa ser tratado como infraestrutura essencial — tão fundamental quanto estradas, energia ou saneamento.

Esta tem sido a luta histórica da SBPC: ciência, tecnologia, educação, saúde, meio ambiente, cultura e inclusão social precisam andar juntas. Em 2022, lançamos a série de seminários, “Projeto para um Brasil Novo”, com o objetivo de promover debates públicos sobre temas estratégicos para o desenvolvimento do país. Entre os assuntos discutidos, destacaram-se educação superior, pós-graduação, saúde, direitos humanos, segurança pública, mudanças climáticas, meio ambiente, questão indígena, diversidade de gênero e raça e cultura. É com essa visão abrangente que seguimos contribuindo para o debate nacional, com base no conhecimento científico e no compromisso com os princípios democráticos.

Acreditamos que promover a ciência é defender a vida e o futuro do país. Isso significa garantir recursos estáveis para a pesquisa, reestruturar a educação básica, combater o analfabetismo funcional — que ainda atinge quase um terço da população — e enfrentar desigualdades profundas, que seguem excluindo milhões de brasileiros dos benefícios da inovação.

Democracia, afinal, é isso: “todo poder ao povo”. E conhecimento é poder. Dignidade também. E esses são princípios concretos, inscritos no Artigo 3º da nossa Constituição Federal de 1988: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; reduzir desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos ou discriminação. Cumprir esses objetivos exige ações igualmente concretas, políticas públicas consistentes — não apenas discursos demagógicos sobre um futuro que pode jamais chegar, mas leis e investimentos reais e duradouros.

O Brasil não pode mais se dar ao luxo de desperdiçar conhecimento ou abandonar políticas bem-sucedidas a cada troca de governo. Temos recursos, talentos e instituições. Podemos liderar áreas estratégicas como energias renováveis, fármacos, biotecnologia, inteligência artificial. Mas isso exige escolhas e prioridades claras. Só com um pacto nacional pelo conhecimento o Brasil poderá deixar de ser o país do futuro — e tornar-se, enfim, o país do presente.

Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Veja as notas do Especial da Semana – Caminhos para um Brasil desenvolvido

Rafael Revadam – Jornal da Ciência, 11/06/2025 – Vice-presidente da SBPC entrega Livro Violeta ao deputado Hugo Motta

Rafael Revadam – Jornal da Ciência, 17/07/2024 – Desenvolvimento da Inovação no Brasil começa com políticas integradas de CT&I e Educação

Gov.br – O Governo Federal quer saber: que Brasil você deseja para os próximos 25 anos?

Unesco, 28/05/2025 – Educação para o desenvolvimento sustentável no Brasil

Brasil de Fato – Periferias são a chave para o futuro do desenvolvimento do País’, diz secretário nacional

Diário do Vale, 24/05/2025 – O Brasil precisa construir o próprio futuro: a urgência das obras de infraestrutura para o desenvolvimento nacional

Jornal GGN – Plano Nacional de Logística: a fonte das desigualdades, por Augusto Rocha

Jornal GGN, 08/05/2025- “Planejar o Brasil não é tarefa isolada”, afirma Simone Tebet em congresso sobre desenvolvimento do País

Jornal GGN, 07/05/2025 – Minerais críticos, carros voadores, biocombustíveis, fármacos e IA: os setores onde o Brasil tem potencial, na visão do BNDES

CGEE – Publicada versão final do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial sob coordenação do MCTI