EDITORIAL: Mulheres e meninas construindo a ciência do futuro

Celebramos na última terça-feira, 11 de fevereiro, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data instituída pela Unesco que carrega consigo tanto conquistas históricas quanto desafios persistentes. Neste ano, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizou a cerimônia de entrega do 6º Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, reconhecendo jovens talentos na categoria “Meninas na Ciência”. Foram premiadas três estudantes de graduação, três do ensino médio e uma menção honrosa foi concedida a uma pesquisadora paraense de 44 anos, cuja história de luta e resiliência ilustra como basta uma oportunidade, uma orientadora determinada e inspiradora, um incentivo, para mudar os rumos de uma vida.

Como parte da celebração, no dia seguinte, o CNPEM fez questão, a pedido da SBPC, de conceber uma visita especial para as vencedoras, de modo que essas jovens pudessem perceber toda a dimensão do impacto da ciência de ponta em nosso país. Ali, elas tiveram a oportunidade de conhecer uma das infraestruturas científicas mais avançadas do planeta. O complexo, que abriga laboratórios de ponta, impressiona não apenas pela sua magnitude, mas também pela representatividade: 40% dos pesquisadores que ali atuam são mulheres. O impacto dessa experiência foi evidente no brilho dos olhos das meninas. Caminhando pelos corredores onde ciência de altíssimo nível é feita, muitas, pela primeira vez, vislumbraram que aquele lugar — um espaço de inovação em solo brasileiro — pode também ser delas.

A visita ainda coincidiu com um momento especial: o CNPEM celebrava a publicação de um trabalho na renomada revista Nature, um marco que reforça a relevância científica do complexo. Para as jovens premiadas, o contato com esse ambiente inspirador não foi apenas educativo, mas transformador. A experiência proporcionou um profundo senso de pertencimento, a certeza de que o Brasil é, sim, um lar para a ciência de ponta e que elas podem ser parte dessa história.

Ao mesmo tempo, essa experiência revela algo ainda maior: o papel fundamental das mulheres no desenvolvimento do Brasil. Não se trata apenas de abrir portas para que meninas e mulheres tenham acesso à ciência; trata-se de reconhecer o talento, a resiliência e a capacidade de inovação que elas historicamente trouxeram e que são essenciais para o progresso do país como um todo. Suas contribuições não apenas transformam suas próprias trajetórias, mas também impulsionam o avanço da ciência em um Brasil que ainda busca superar as desigualdades.

Apesar de todo o potencial e dessas vitórias, o contexto é desafiador. Dados recentes revelam um declínio alarmante na taxa de mulheres que se formam em áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) no Brasil, mais um dos impactos da pandemia de covid-19. Enquanto, em 2019, 53% das mulheres que ingressaram em cursos dessas áreas concluíram a graduação, em 2023, esse percentual despencou para 27% – uma queda de quase 50%. Essa redução não reflete falta de talento ou ambição, mas sim as barreiras adicionais que muitas mulheres enfrentam, agravadas por crises econômicas e sociais.

Ainda assim, há sinais de avanço. A presença feminina nas graduações STEM aumentou nos últimos dez anos, com destaque para a área da computação, em que o número de ingressantes cresceu 368%. Porém, desafios estruturais permanecem, especialmente para mulheres negras, pardas e indígenas, que continuam sub-representadas em posições de destaque.

A ciência brasileira precisa dessas jovens. Reconhecer, apoiar e ampliar a presença feminina no campo científico não é apenas uma estratégia inteligente para o progresso, é uma questão de justiça. O Prêmio Carolina Bori e outras oportunidades, como a visita ao CNPEM ou mesmo as Reuniões Anuais e Regionais da SBPC, incluindo a reunião regional em Vitória, que ocorrerá nos dias 19-21 de fevereiro na Universidade Federal do Espírito Santo, nos lembram do poder transformador de abrir portas e oferecer inspiração.

Que essas histórias nos motivem a abrir mais caminhos, criando um sistema no qual meninas e mulheres não apenas sonhem, mas realizem todo o seu potencial na ciência e além.

Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da SBPC

Veja as notas do Especial da Semana – Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

Divulga-CI, 11/02/2025 – É preciso mais mulheres na Ciência: por quê?

JC Noícias – Um prêmio pelo amor à ciência

JC Notícias – Fapema e o incentivo às Mulheres e Meninas na Ciência

Agência Brasil, 11/02/2025 – Apenas 27% das mulheres em cursos de ciências concluíram os estudos

EBC, 11/02/2025 – Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

Agência Brasil, 11/02/2025 – Ausência de mulheres negras é desafio para ciência

MCTI, 11/02/2025 – Mulheres já são maioria nas bolsas de mestrado e doutorado, mas ocupam apenas 35,5% das bolsas de produtividade

MCTI, 11/02/2025 – MCTI reforça compromisso com a equidade de gênero e a inclusão de mulheres na ciência, tecnologia, engenharia e matemática

Correio Braziliense, 11/02/2025 – Conheça 11 mulheres que marcaram a ciência e a luta por equidade