Educação ambiental nas periferias: quando o futuro nasce da comunidade

Reportagem da nova edição da Ciência & Cultura aborda como comunidades reinventam a educação ambiental, resgatam saberes tradicionais e desafiam a lógica hierárquica com soluções criativas e colaborativas

WhatsApp Image 2025-09-26 at 09.12.12Embora o desenvolvimento sustentável tenha se consolidado como um dos grandes objetivos globais do século XXI, a agenda ambiental brasileira se firmou em meio a disputas e contradições. Questões ligadas à preservação da Amazônia e de outros biomas, ao avanço do agronegócio, da mineração e da pecuária, além do represamento de rios para geração de energia, marcaram esse processo. A dificuldade do Estado em aplicar a lei em áreas remotas intensificou os conflitos e transformou a política ambiental em tema de divisão tanto na sociedade quanto entre governos. Nesse cenário, a educação ambiental também seguiu um caminho desigual: historicamente estruturada de cima para baixo, a partir de programas governamentais ou acadêmicos, ela muitas vezes chegou às comunidades em forma de cartilha, sem conexão com a realidade local. Isso é o que discute reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.

Na contramão dessa lógica, coletivos e movimentos de base surgem a partir da vivência direta dos problemas ambientais. Na Amazônia, comunidades ribeirinhas transmitem técnicas ancestrais de manejo sustentável, conciliando tradição e modernidade. Nas periferias urbanas, moradores recorrem ao grafite, à música e ao teatro para discutir poluição, descarte irregular de resíduos e acesso à água potável. Em áreas rurais, práticas de cultivo tradicionais são resgatadas, como o uso de sementes crioulas adaptadas ao solo e ao clima, resistentes a pragas e vistas como alternativas diante das mudanças climáticas. “Esses grupos mostram que o conhecimento não é algo que chega pronto de fora, mas nasce da realidade de quem vive os problemas ambientais no dia a dia”, avalia Sandro Tonso, professor da Faculdade de Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para ele, a potência desses coletivos está justamente em romper com a lógica hierárquica e propor soluções que fazem sentido no território.

Um dos aspectos mais relevantes dessas experiências é o resgate de saberes tradicionais que, por muito tempo, foram invisibilizados ou considerados inferiores ao conhecimento científico. O uso de ervas medicinais, a observação dos ciclos da natureza e a transmissão de histórias como forma de ensino comunitário voltam a ser valorizados, não em oposição à ciência, mas em diálogo com ela. Essa abordagem amplia a compreensão sobre sustentabilidade e oferece alternativas práticas, adaptadas às condições específicas de cada território.

Exemplo desse modelo é o coletivo Mirí, criado em 2016 por adolescentes e jovens na agrovila Itaqui, zona rural de Castanhal, no Pará. Atuando por meio da arte, cultura, tecnologia e diálogo com a comunidade, o grupo promove coleta seletiva e educação ambiental, além de cobrar ações do poder público contra o desmatamento. Segundo Pedro Lameira dos Santos, um dos responsáveis pelo Mirí, as ações do coletivo se organizam em quatro eixos: socioambiental, mobilidade comunitária, produção e pesquisa de conhecimento e incidência política. “Nós também temos nos organizado para que esse processo se expanda para outros territórios, utilizando as mesmas ferramentas que usamos em Castanhal: criativas, inovadoras e tecnológicas”, afirma.

Leia a reportagem completa:

https://revistacienciaecultura.org.br/?p=8970

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