A educação básica é fundamental para o país e para a ciência. Essa foi a conclusão dos participantes do segundo seminário da série “Projeto para um Brasil Novo”, realizado nesta quarta-feira (23). O evento foi transmitido pelo canal da SBPC no YouTube.
Coordenado por Marta Feijó Barroso, professora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do GT de Educação da SBPC, o seminário contou com a participação de Maria Beatriz Luce, professora de Política e Administração da Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretora financeira da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), José Francisco Soares, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Anderson Gomes, professor no Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Conselho da SBPC, e Helena Singer, vice-presidente da Ashoka América Latina.
“A educação está no início de tudo, e a educação básica está no início da ciência, da tecnologia e da inovação”, enfatizou Barroso durante a abertura do evento. Para os participantes do seminário, são nos primeiros anos de escola que começam a ser formados os profissionais do amanhã — inclusive os cientistas — que serão responsáveis pelo desenvolvimento social e crescimento econômico do país.
“É na escola de educação básica que aprendizados essenciais ocorrem. É muito importante que reconheçamos que a educação está em todo lugar, mas é preciso educação escolar de qualidade, é preciso fazer a criança estar na escola”, enfatizou Soares.
No entanto, existem muito desafios a serem vencidos. De acordo com Gomes, os desafios da educação no Brasil são multifatoriais, sistêmicos e complexos e vem de longa data, transformando-se em um “círculo vicioso”. “Para transformar esse círculo vicioso em um círculo virtuoso, precisamos ter uma formação inicial adequada ao século XXI, uma formação continuada atualizada e um ensino-aprendizado eficiente com foco no estudante”, disse.
Desigualdade X educação para todos
Um dos maiores desafios na educação é a desigualdade, que foi aprofundada com a pandemia, aumentando as disparidades raciais, sociais e locais. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Datafolha, em 2021, quatro milhões de estudantes abandonaram a escola durante a pandemia. “A questão da desigualdade tem que vir para o debate. Nós naturalizamos a exclusão no Brasil. Mas a educação é para todos”, defendeu Soares.
Luce enfatizou que educação para todos é um direito garantido pela Constituição, mas que é preciso ir além, lutando por uma educação de qualidade. “Educação democrática é nossa utopia, com a escola pública sendo direito primeiro e o ensino de qualidade para todos”.
Para Gomes, é importante tornar o ensino inclusivo e equitativo, diminuindo as distâncias entre o ensino privado e o público. “Precisamos de uma educação sem distância. Ela pode ser presencial, remota ou híbrida, pode ser privada ou pública, mas precisa ser de qualidade sempre”, afirmou.
Planos para o futuro
Os participantes pontuaram que, normalmente, o debate sobre ciência, tecnologia e inovação não considera as escolas de educação básica como centros de produção de conhecimento, de tecnologia e de inovação social. Porém, é preciso começar a mudar este cenário. “A inovação social é justamente o que as comunidades criam para enfrentar os desafios do presente, e as escolas brasileiras fazem isso de forma sustentável e consistente há bastante tempo”, apontou Singer.
Ao pensar um projeto para um Brasil novo, o primeiro passo é reconhecer a importância da educação básica e investir em sua valorização. “A excelência que o país precisa não vai cair de algum lugar, ela vai ser construída. E o início é a educação básica”, defendeu Soares.
Segundo Luce, a ideia é não ficarmos apenas na batalha do presente, mas pensarmos em um futuro melhor para nosso país. Para isso, é preciso envolver toda a sociedade. “Para pensar outro futuro, queremos fazê-lo de modo público, reconhecendo a participação política e a educação como um direito vertebrado pela diversidade e pela liberdade emancipatória encarnado da solidariedade”.
Para Singer, é preciso valorizar a escola básica como produtora de conhecimento e inovação e incentivar sua conexão com o território e a comunidade em que se localiza. “É essa conexão que vai produzir um projeto de um país que valoriza seus biomas, suas expressões culturais, suas tradições, sua arte, seus saberes, suas tecnologias, para viabilizar um projeto de país que seja mais justo, mais equitativo, mais inclusivo, e que promova a maior integração de todos os seres e o compromisso de todos os seres com o futuro do planeta”.
Projeto para um Brasil Novo
O evento compõe os 12 seminários temáticos que a SBPC está realizando para tratar de temas relevantes que contribuam para o desenvolvimento do País. Entre os assuntos a serem abordados estão “Educação superior”, “Pós-graduação”, “Saúde”, “Direitos humanos”, “Segurança pública”, “Mudanças climáticas”, “Meio ambiente”, “Questão indígena”, “Diversidade de gênero e raça” e “Cultura”. O primeiro seminário, que debateu “Ciência, Tecnologia e Inovação”, foi realizado no dia 9 de março. Os eventos online serão transmitidos pelo canal da SBPC no YouTube.
Fernanda Sobral, vice-presidente da SBPC, disse na abertura do evento que ao final esses debates serão objetos de uma publicação, que abrangerá todas as propostas surgidas a cada semana durante os seminários. “Esse documento será entregue aos candidatos, tanto do Legislativo como do Executivo para apreciação e compromisso”, apontou. “E o tema da educação básica é um tema de grande importância, que precisa ser abordada com veemência e sabedoria pelo próximo governo”.
Assista aqui ao seminário na íntegra.
Jornal da Ciência