Você já parou para pensar quanto pesa tudo o que consome durante o ano? Desde a alimentação diária, as roupas que veste, até os materiais de construção da sua casa e até mesmo o combustível dos transportes que utiliza. Em termos de toneladas, qual é o impacto real dessas escolhas no nosso planeta? Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que traz como tema “Mudanças climáticas e a transversalidade do conhecimento”.
A economia tradicional, com sua ênfase em preços e transações monetárias, sempre ignorou uma pergunta crucial: como estamos utilizando os materiais que sustentam nossa riqueza? A ecologia industrial, um campo emergente, visa responder a essa questão ao examinar o fluxo de materiais e energia entre a sociedade e a natureza.
Com o aumento da crise socioambiental, tornou-se evidente que nosso “metabolismo social” está comprometido. Estamos retirando recursos naturais a uma taxa insustentável, comprometendo serviços ecossistêmicos vitais como água, solo, clima e biodiversidade. E o cenário não está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, pois a riqueza material não garante uma vida melhor para todos. “Estamos retirando da natureza materiais a um ritmo explosivo, que não permite sua regeneração e que está comprometendo os mais importantes serviços ecossistêmicos dos quais dependemos”, alerta Ricardo Abramovay, professor titular da Cátedra Josué de Castro e professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP.
Esses são os principais pontos de um novo relatório do Painel de Recursos Internacionais (IRP) do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), intitulado “Inverter a Tendência: Caminhos para um Planeta Habitável Enquanto o Uso dos Recursos Explode”. Publicado recentemente, o estudo revela que, apesar das inovações tecnológicas que buscam aumentar a eficiência, a quantidade total de materiais utilizados continua a crescer. Por exemplo, uma lata de alumínio para bebidas, que pesava 19 gramas em 1980, passou para 13 gramas em 2010, mas o número de latas produzidas triplicou. Da mesma forma, o peso dos celulares caiu drasticamente ao longo dos anos, mas o número de dispositivos vendidos disparou. Essa tendência demonstra o chamado “efeito rebote”, onde a eficiência na redução de materiais em produtos leva a um aumento no consumo total e, consequentemente, na extração de recursos.
O relatório do IRP/UNEP argumenta que focar exclusivamente na eficiência não é suficiente para enfrentar a crise ambiental. O conceito de “desacoplamento” — produzir mais com menos recursos — precisa ser complementado por estratégias que abordem a suficiência e a equidade. A ideia de elevar a pegada material dos mais pobres ao nível dos mais ricos só aceleraria a degradação ambiental. Para mudar o rumo, é crucial que a comunidade internacional ajuste suas políticas para não apenas melhorar a eficiência, mas também para reduzir o consumo geral e enfrentar as desigualdades na distribuição de recursos. Este é um desafio central que deve ser abordado no âmbito do multilateralismo global, com um foco renovado na sustentabilidade e na justiça social. “Nas discussões sobre clima já se generalizou a ideia de que é necessária uma transição justa, o que só será alcançado se a ênfase da descarbonização da vida econômica se concentrar no empenho em oferecer bens públicos que melhorem a vida social”, defende Ricardo Abramovay.
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