“Em 10 anos encolhemos 500 de conhecimento”, afirma diretor do Einstein

Em conferência nessa quarta-feira, na 72ª Reunião Anual da SBPC, o médico Luiz Vicente Rizzo falou sobre tratamento e prevenção do coronavírus

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Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente de pesquisa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo, comentou as diversas terapias contra a covid-19 estudadas por cientistas de todo o mundo em sua conferência “Coronavírus: da biologia ao tratamento e prevenção”. O médico ressaltou que mesmo na corrida pela vacina ou algum tratamento contra a doença, é fundamental que os critérios científicos prevaleçam sobre posicionamentos políticos ou opiniões pessoais. A atividade, que faz parte da 72ª Reunião Anual da SBPC, foi apresentada pela diretora da entidade, Lucile Maria Floeter Winter.

De acordo com Rizzo, o novo coronavírus pegou todos despreparados, em parte pela falta de continuidade das pesquisas sobre os coronavírus já conhecidos. “Assim que os vírus deixaram de matar, os pesquisadores e as agências financiadoras deixaram de pesquisar. E, por causa deste novo coronavírus, começamos a ressuscitar um monte de drogas cujas pesquisas já tinham passado das fases 1, 2 e 3 para outras doenças”, comentou.

O médico explicou que, por conta da gravidade da covid-19, os pesquisadores eliminaram a fase 1 para algumas pesquisas. ”Primeiro testamos a droga in vitro, passamos para os testes pré-clínicos e depois a temos autorização para iniciarmos a fase 1 em humanos. Mas já estamos pulando fases, como fizemos com a pesquisa de transfusão de plasma sanguíneo de recuperados da covid.  Na verdade, não vamos chegar na fase 3 em nenhuma droga, porque uma vez aprovado o estudo, o medicamento vai entrar no ‘fast track’ de todas as agências reguladores por conta do estresse gerado”, explicou.

Rizzo comentou brevemente as dezenas de drogas que estão sendo testadas para covid-19 no mundo, como o favipiravir, remdesivir, galidesivir, lopinavir/ritonavir, arbidol (umifenovir) e a polêmica cloroquina/hidroxicloroquina.

Ele citou especificamente o estudo sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, que foi publicado com grande alarde na revista médica britânica “The Lancet” em 22 de maio, e retratado depois de quase duas semanas. Segundo ele, esse artigo serviu para mostrar que o processo de publicação deve ser revisto e que é preciso focar no embasamento das pesquisas. “Não precisamos falsificar informações. A ciência deve se ater a dados e não a uma visão política ou ideológica do que eles significam. O portador da mensagem deve ser imaterial para uma coisa ser verdadeira ou não”, defendeu.

A exposição do mau comportamento de pessoas e de alguns cientistas foi o maior efeito colateral da pandemia do coronavírus até agora, disse ele.

Rizzo também lamentou retrocessos com relação à importância do conhecimento científico para a sociedade. “Há dez anos eu estava discutindo assuntos futuros, como fazer edição gênica, a expedição do homem a Marte. Mas, passaram-se dez anos e estamos tendo que explicar para as pessoas que a Terra não é plana e que vacina é bom. Em dez anos, encolhemos 500 de conhecimento”, lamentou.

Apesar de toda a correria contra o tempo e muitos atropelos nos esforços de enfrentamento à covid-19, o médico disse que também houve muitos avanços importantes. Ele destacou, por exemplo, que o processo de cuidado da saúde dos pacientes melhorou desde o início da pandemia. “As curvas de mortalidade caíram, e isso se deve à inteligência de saúde desenvolvida. Hoje sabemos melhor quando usar os corticoides, o processo de ventilação. Estes processos melhoraram infinitamente. Além de também termos aprendido a proteger os profissionais de saúde.”

Assista aqui à apresentação na íntegra.

Vivian Costa – Jornal da Ciência