Em reunião extraordinária, Conselho da SBPC homenageia Ennio Candotti

Conselheiros reuniram-se pela primeira vez após a morte do cientista e presidente de honra da entidade nessa segunda-feira, 1º de abril. Em sua homenagem, o poeta cearense Dideus Sales leu o cordel “Ennio Candotti: uma marca indelével na ciência brasileira”
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FOTO: Felipe Fittipaldi

Nessa segunda-feira, 1º de abril, o Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) reuniu-se pela primeira vez sem seu mais ilustre membro, o físico Ennio Candotti, que faleceu em 6 de dezembro de 2023. Em sua homenagem, o poeta cearense Dideus Sales leu o cordel “ENNIO CANDOTTI: UMA MARCA INDELÉVEL NA CIÊNCIA BRASILEIRA” aos participantes da sessão.

O Conselho da SBPC é constituído pelo presidente da SBPC, por ex-presidentes da entidade, por membros eleitos pelos sócios ativos e por três representantes das Sociedades Científicas Afiliadas, um de cada uma das três grandes áreas. Candotti, que havia sido presidente da SBPC por quatro mandatos, era uma presença assídua e muito ativa nesses encontros.  A última congregação dos conselheiros havia sido durante a 75ª Reunião Anual da SBPC, realizada em julho passado, em Curitiba (PR). E Candotti esteve presente, pessoalmente, com sua genialidade, ideias e contribuições para ações da SBPC.

Neste encontro extraordinário, convocado nessa segunda-feira, o Conselho prestou uma nova homenagem ao cientista e a Diretoria da entidade convidou Dideus Sales para colocar em versos a história e o legado de Candotti.

“As reuniões do Conselho da SBPC são importantíssimas para o direcionamento das ações e posicionamentos da entidade, onde se constrói com experiências e vivências de pesquisadores e docentes de todo o Brasil o papel histórico da SBPC frente aos grandes desafios sociais e políticos sempre enfrentados pela sociedade brasileira.  O professor Ennio era participante ativo dessas reuniões. A Diretoria achou que, diante da primeira reunião do Conselho sem a sua presença, homenageá-lo era imperativo. Além disso, pela importância que ele atribuía à ciência e à arte juntas, na divulgação científica, pareceu natural homenageá-lo com poesia popular: um Cordel. O poeta Dideus Sales aceitou a missão e a cumpriu majestosamente. Nos emocionou a todos”, declarou a secretária-geral da SBPC, Claudia Linhares Sales.

Dideus SalesAntonio Dideus Pereira Sales é um poeta, radialista, jornalista, escritor, editor, cordelista, compositor, folclorista e produtor cultural. Radicado na cidade de Aracati, no litoral leste do Ceará, já publicou 20 livros e gravou cinco CDs de poemas de sua autoria (assista ao seu canal no Youtube neste link). No cordel dedicado a Candotti, exalta o estilo analítico e sereno, e sua singular diversidade, marcas do cientista que dedicou-se à expansão da divulgação científica no País, a políticas públicas para alavancar o setor e à paixão por ensinar e multiplicar seu entusiasmo pela ciência.

 

 

Leia abaixo o cordel:

ENNIO CANDOTTI: UMA MARCA INDELÉVEL NA CIÊNCIA BRASILEIRA

Por Dideus Sales

I

Com desfalque na ciência,

Temos lacuna por mote.

Mas, não há tempo que esgarce

Nem vendaval que amarrote

O nome glorificado

E o eminente legado

Do imenso Ennio Candotti.

II

Devotado a estudos

E pesquisa a vida inteira,

Consolidou o seu nome

Em cintilante carreira.

Competente, resoluto,

Deu enorme contributo

À ciência brasileira.

III

Ennio ainda muito jovem,

Apreço à física denota.

Fez graduação na USP,

Da física seguiu a rota.

E no Rio de Janeiro

Foi insigne timoneiro

Na UFRJ.

IV

Mesmo sendo detentor

De uma cultura tamanha,

Outras universidades

Buscou em sua façanha,

E sem trocar a sandália

Partiu pra Nápoles, na Itália

E Munique, na Alemanha.

V

Quando foi se graduar

Pensou em filosofia,

Sonhou em arquitetura,

Mas, dessa declinaria

Porque teve consciência

Que mergulhar na ciência

Satisfação lhe daria.

VI

Foi singular e diverso

Em seu estilo analítico,

Naturalmente sereno

E eticamente crítico.

Tinha índole fleumática,

Fascínio em sua didática

E um profundo olhar político.

VII

Entre a Itália e o Brasil

Os seus sonhos floresceram.

Na física, realizou-se,

Os seus feitos transcenderam.

Nasceu em solo estrangeiro,

Mas era mais brasileiro

Que muitos que aqui nasceram.

VIII

A tudo que empreendia

Dava ênfase, vigor…

Cientista celebrado,

Aclamado professor,

Docente universitário,

Físico visionário

E tenaz pesquisador.

IX

Como professor, deixou

Sua marca e seu encanto.

Por tantos foi tão querido

Que ninguém calcula o tanto.

Essa estima não se esgota

Na UFRJ

E UF do Espírito Santo.

X

No perfil do doutor Ennio,

Nitidamente contemplo

Que a ciência era seu mundo

Universidade, o templo.

E a gente identifica

Que a parte densa e mais rica

Do seu legado é o exemplo.

XI

Tudo que fez, fez bem-feito

Com desvelo e pertinência.

Perscrutador insistente

De singular competência.

Fez coisas inenarráveis

E deu ajudas notáveis

Ao avanço da ciência.

XII

Fez na SBPC

Um trabalho magnífico!

Quatro vezes presidente

E um propósito específico:

Fazer crescer, florescer,

Trazer a luz do poder

Para o mundo científico.

XIII

Criou na SBPC

Com eficácia e ação,

Revista Ciência Hoje,

Brilhante publicação

Feita com inteligência

Valorizando a ciência

Com melhor divulgação.

 

XIV

Inovador, arrojado,

Irrequieto e gentil:

Quatro marcas distintivas

Que ornamentam o perfil

Desse grande educador

E maior divulgador

Da ciência no Brasil.

XV

Físico e professor

De erudição notória,

Sempre incentivou aos jovens

Ao longo da trajetória.

Seu trabalho valoroso,

Limpo e despretensioso

Orna de luz sua história.

XVI

Gentileza e elegância

Foram-lhe gratuidade,

Disseminava Saber

Com muita simplicidade.

Dedilhava em muitas teclas…

Para colegas e asseclas

Se fez unanimidade.

XVII

Divulgador da ciência,

Para ela trouxe aporte,

Com veemência buscou

À pesquisa dar suporte.

Reconhecendo as ações,

Grandes instituições

Lamentaram sua morte.

XVIII

Companheiros e discípulos

Por ele tinham fascínio,

Pela firmeza moral,

O lógico raciocínio…

Por tanto que fez na lida,

A inesperada partida

Trouxe à ciência um declínio.

XIX

Em tempos tão esquisitos,

Grassa o negacionismo,

Aflora a intolerância,

Se agiganta o extremismo…

Contra inflexível cerda,

Ennio é lamentável perda,

Pelo seu protagonismo.

XX

Do estado do Amazonas

Ganhou a cidadania.

Por seus méritos e feitos

Recebeu muita honraria,

Prêmio Kalinga da UNESCO,

Em seu fado pitoresco

Galgou tudo que queria.

XXI

Amante da natureza,

Figura excelsa e idônea,

Criou e fez se expandir

Com cuidado e parcimônia

Um projeto admirável,

De grandeza inestimável:

O Museu da Amazônia.

XXII

Batalhou para a ciência

Sempre está sob holofote,

A mulher, Maria Elisa,

Tem na física o mesmo dote

Com desenvoltura e brilho.

O casal gerou um filho:

Fábio Magalhães Candotti.

XXIII

Nascido em Roma, na Itália,

Chegou ao nosso país

Com dez anos de idade,

Viver aqui, sempre quis.

Aqui, formou-se, casou-se,

Foi pai, naturalizou-se,

Sonhou, venceu, foi feliz.

 

Jornal da Ciência