Nessa segunda-feira, 1º de abril, o Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) reuniu-se pela primeira vez sem seu mais ilustre membro, o físico Ennio Candotti, que faleceu em 6 de dezembro de 2023. Em sua homenagem, o poeta cearense Dideus Sales leu o cordel “ENNIO CANDOTTI: UMA MARCA INDELÉVEL NA CIÊNCIA BRASILEIRA” aos participantes da sessão.
O Conselho da SBPC é constituído pelo presidente da SBPC, por ex-presidentes da entidade, por membros eleitos pelos sócios ativos e por três representantes das Sociedades Científicas Afiliadas, um de cada uma das três grandes áreas. Candotti, que havia sido presidente da SBPC por quatro mandatos, era uma presença assídua e muito ativa nesses encontros. A última congregação dos conselheiros havia sido durante a 75ª Reunião Anual da SBPC, realizada em julho passado, em Curitiba (PR). E Candotti esteve presente, pessoalmente, com sua genialidade, ideias e contribuições para ações da SBPC.
Neste encontro extraordinário, convocado nessa segunda-feira, o Conselho prestou uma nova homenagem ao cientista e a Diretoria da entidade convidou Dideus Sales para colocar em versos a história e o legado de Candotti.
“As reuniões do Conselho da SBPC são importantíssimas para o direcionamento das ações e posicionamentos da entidade, onde se constrói com experiências e vivências de pesquisadores e docentes de todo o Brasil o papel histórico da SBPC frente aos grandes desafios sociais e políticos sempre enfrentados pela sociedade brasileira. O professor Ennio era participante ativo dessas reuniões. A Diretoria achou que, diante da primeira reunião do Conselho sem a sua presença, homenageá-lo era imperativo. Além disso, pela importância que ele atribuía à ciência e à arte juntas, na divulgação científica, pareceu natural homenageá-lo com poesia popular: um Cordel. O poeta Dideus Sales aceitou a missão e a cumpriu majestosamente. Nos emocionou a todos”, declarou a secretária-geral da SBPC, Claudia Linhares Sales.
Antonio Dideus Pereira Sales é um poeta, radialista, jornalista, escritor, editor, cordelista, compositor, folclorista e produtor cultural. Radicado na cidade de Aracati, no litoral leste do Ceará, já publicou 20 livros e gravou cinco CDs de poemas de sua autoria (assista ao seu canal no Youtube neste link). No cordel dedicado a Candotti, exalta o estilo analítico e sereno, e sua singular diversidade, marcas do cientista que dedicou-se à expansão da divulgação científica no País, a políticas públicas para alavancar o setor e à paixão por ensinar e multiplicar seu entusiasmo pela ciência.
Leia abaixo o cordel:
ENNIO CANDOTTI: UMA MARCA INDELÉVEL NA CIÊNCIA BRASILEIRA
Por Dideus Sales
I
Com desfalque na ciência,
Temos lacuna por mote.
Mas, não há tempo que esgarce
Nem vendaval que amarrote
O nome glorificado
E o eminente legado
Do imenso Ennio Candotti.
II
Devotado a estudos
E pesquisa a vida inteira,
Consolidou o seu nome
Em cintilante carreira.
Competente, resoluto,
Deu enorme contributo
À ciência brasileira.
III
Ennio ainda muito jovem,
Apreço à física denota.
Fez graduação na USP,
Da física seguiu a rota.
E no Rio de Janeiro
Foi insigne timoneiro
Na UFRJ.
IV
Mesmo sendo detentor
De uma cultura tamanha,
Outras universidades
Buscou em sua façanha,
E sem trocar a sandália
Partiu pra Nápoles, na Itália
E Munique, na Alemanha.
V
Quando foi se graduar
Pensou em filosofia,
Sonhou em arquitetura,
Mas, dessa declinaria
Porque teve consciência
Que mergulhar na ciência
Satisfação lhe daria.
VI
Foi singular e diverso
Em seu estilo analítico,
Naturalmente sereno
E eticamente crítico.
Tinha índole fleumática,
Fascínio em sua didática
E um profundo olhar político.
VII
Entre a Itália e o Brasil
Os seus sonhos floresceram.
Na física, realizou-se,
Os seus feitos transcenderam.
Nasceu em solo estrangeiro,
Mas era mais brasileiro
Que muitos que aqui nasceram.
VIII
A tudo que empreendia
Dava ênfase, vigor…
Cientista celebrado,
Aclamado professor,
Docente universitário,
Físico visionário
E tenaz pesquisador.
IX
Como professor, deixou
Sua marca e seu encanto.
Por tantos foi tão querido
Que ninguém calcula o tanto.
Essa estima não se esgota
Na UFRJ
E UF do Espírito Santo.
X
No perfil do doutor Ennio,
Nitidamente contemplo
Que a ciência era seu mundo
Universidade, o templo.
E a gente identifica
Que a parte densa e mais rica
Do seu legado é o exemplo.
XI
Tudo que fez, fez bem-feito
Com desvelo e pertinência.
Perscrutador insistente
De singular competência.
Fez coisas inenarráveis
E deu ajudas notáveis
Ao avanço da ciência.
XII
Fez na SBPC
Um trabalho magnífico!
Quatro vezes presidente
E um propósito específico:
Fazer crescer, florescer,
Trazer a luz do poder
Para o mundo científico.
XIII
Criou na SBPC
Com eficácia e ação,
Revista Ciência Hoje,
Brilhante publicação
Feita com inteligência
Valorizando a ciência
Com melhor divulgação.
XIV
Inovador, arrojado,
Irrequieto e gentil:
Quatro marcas distintivas
Que ornamentam o perfil
Desse grande educador
E maior divulgador
Da ciência no Brasil.
XV
Físico e professor
De erudição notória,
Sempre incentivou aos jovens
Ao longo da trajetória.
Seu trabalho valoroso,
Limpo e despretensioso
Orna de luz sua história.
XVI
Gentileza e elegância
Foram-lhe gratuidade,
Disseminava Saber
Com muita simplicidade.
Dedilhava em muitas teclas…
Para colegas e asseclas
Se fez unanimidade.
XVII
Divulgador da ciência,
Para ela trouxe aporte,
Com veemência buscou
À pesquisa dar suporte.
Reconhecendo as ações,
Grandes instituições
Lamentaram sua morte.
XVIII
Companheiros e discípulos
Por ele tinham fascínio,
Pela firmeza moral,
O lógico raciocínio…
Por tanto que fez na lida,
A inesperada partida
Trouxe à ciência um declínio.
XIX
Em tempos tão esquisitos,
Grassa o negacionismo,
Aflora a intolerância,
Se agiganta o extremismo…
Contra inflexível cerda,
Ennio é lamentável perda,
Pelo seu protagonismo.
XX
Do estado do Amazonas
Ganhou a cidadania.
Por seus méritos e feitos
Recebeu muita honraria,
Prêmio Kalinga da UNESCO,
Em seu fado pitoresco
Galgou tudo que queria.
XXI
Amante da natureza,
Figura excelsa e idônea,
Criou e fez se expandir
Com cuidado e parcimônia
Um projeto admirável,
De grandeza inestimável:
O Museu da Amazônia.
XXII
Batalhou para a ciência
Sempre está sob holofote,
A mulher, Maria Elisa,
Tem na física o mesmo dote
Com desenvoltura e brilho.
O casal gerou um filho:
Fábio Magalhães Candotti.
XXIII
Nascido em Roma, na Itália,
Chegou ao nosso país
Com dez anos de idade,
Viver aqui, sempre quis.
Aqui, formou-se, casou-se,
Foi pai, naturalizou-se,
Sonhou, venceu, foi feliz.
Jornal da Ciência