Emissões brasileiras a caminho da COP30

“Temos que aproveitar nossas enormes vantagens estratégicas para voltarmos a ter um importante protagonismo internacional na questão ambiental e climática”, propõe o vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo, que participou, na última semana, da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Dubai
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Evento paralelo na COP-28 organizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisas da Amazônia) discutindo as emissões brasileiras e nosso caminho até a COP30

Como o Brasil poderá atingir desmatamento zero em 2030 e Net Zero de emissões líquidas em 2050? E como fazer isso, e ao mesmo tempo diminuir desigualdades sociais? Para discutir este importante aspecto, o IPAM montou um evento paralelo oficial da COP28, com participação de pesquisadores da Mata Atlântica, do IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – https://imazon.org.br/ ), SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa https://seeg.eco.br/ ), e do próprio IPAM, visando à COP30 e os desafios brasileiros na redução de emissões.

O levantamento do SEEG para 2022 mostra que desmatamento responde por 48% de nossas emissões, agropecuária 27%, energia 18%, resíduos (4%), e processos industriais (3%). Destas categorias, eliminar nossos 48% é a componente mais fácil. O desafio é reduzir os 27% da agropecuária, bem como os 18% do setor energético. Com a intensificação dos extremos climáticos, vemos que em 2022 e 2023 tivemos um acionamento maior da geração termoelétrica, o que pode se repetir no futuro.

Os olhos do mundo estão voltados para as taxas de desmatamento da Amazônia, que felizmente caíram nos dois últimos levantamentos do INPE. Atualmente, o Brasil desmata 9.000 Km² de florestas, e reduzir este número a zero tem vários desafios. Um destes desafios é a questão do combate às atividades ilegais na Amazônia. O IMAZON apresentou resultados de um importante estudo sobre o papel do judiciário na luta contra a criminalidade na Amazônia, incluindo invasões de terras públicas e indígenas, bem como o enfrentamento ao garimpo ilegal. O fundo Amazônia está financiando a implementação do novo PPCDAm e o centro de combate à criminalidade na Amazônia, que esperamos tenham resultados importantes.

O setor agropecuário emitia, em 1990, 185 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e). Em 2023, este número mais que triplicou, atingindo 600 MtCO2e. O painel discutiu processos modernos de integração lavoura-pecuária, em que é possível reduzir em 30% as emissões de metano na pecuária. Isso sem reduzir a produtividade. A EMBRAPA, com seu plano de agricultura de baixas emissões de carbono em desenvolvimento com universidades, pode dar um enorme avanço nesta área, inclusive com o sequestro de carbono no solo.

No setor energético, o destaque do Brasil é uma matriz muito mais limpa que a maioria dos países, mas ainda com fraca participação de geração solar e eólica, comparada com nosso grande potencial nesta área. A possibilidade de geração de hidrogênio verde com baixos custos também é destaque em nosso país. Mas ainda temos geração de eletricidade por queima de carvão, e um Ministério de Minas de Energia que enfatiza a expansão da produção de petróleo, ao invés de olhar para o futuro, que é a energia renovável.

Temos que chegar na COP30 fazendo nossa lição de casa na questão de redução de emissões. Importante salientar que com 48% de emissões associado ao desmatamento, temos uma possibilidade única no mundo, de redução rápida e barata de metade de nossas emissões de gases de efeito estufa. Temos que aproveitar nossas enormes vantagens estratégicas para voltarmos a ter um importante protagonismo internacional na questão ambiental e climática.

Na COP28, o debate principal se deu na questão de como se referir ao fim da era dos combustíveis fósseis. Duas possibilidades: se devemos usar o termo “eliminar gradualmente”, (em inglês “phase out”), ou somente usar o termo “phase down”, que seria uma redução. A discussão não é somente semântica. Outra discussão é que os países devem concordar em acabar com o uso de combustíveis fósseis “não compensados” (em inglês “unabated”), o que abriria portas enormes para continuarmos com a era do petróleo, que precisamos terminar definitivamente, e o mais rápido possível. Vamos esperar o documento final em termos de linguagem, que pode ter consequências importantes para nossa trajetória futura de combustíveis fósseis.

Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC, para o Jornal da Ciência*

*O físico Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC e professor titular da USP, reporta ao Jornal da Ciência os destaques da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, que reúne 197 países entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes.