O pronunciamento feito nesta terça, 24, pelo presidente Jair Bolsonaro em rede nacional contra medidas de isolamento da população para o combate ao coronavírus repercutiram de forma negativa no meio médico e científico. Entidades divulgaram notas rebatendo as falas do presidente e reforçando a necessidade de distanciamento social para conter a pandemia.
Para a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Bolsonaro agiu de forma criminosa e se colocou como “inimigo da saúde do povo”. Segundo a entidade, ao negar o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde, o presidente comete o crime de “infração de medida sanitária preventiva”, estabelecido no artigo 268 do Código Penal Brasileiro, que cita a necessidade de “determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”.
Durante seu pronunciamento em TV e rádio, o presidente voltou a usar a palavra “histeria” para classificar as medidas de isolamento impostas por Estados e municípios em todo o País, como fechamento de comércios e restrições a locais públicos, como parques e escolas. Bolsonaro chegou a criticar diretamente o fechamento de escolas, sejam públicas e privadas, já que, segundo ele, apenas idosos podem sofrer consequências mais graves se contagiados.
Apoiada por outras seis entidades, como a Associação Brasileira de Enfermagem e pela Associação Paulista de Medicina, a nota ressalta que o “pronunciamento perverso pode resultar em mais sofrimento e mortes na já tão sofrida população brasileira, particularmente entre os segmentos vulneráveis da sociedade” e exige das instituições da República uma reação contra a postura do presidente.
Também por meio de nota, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) considerou a fala do presidente irresponsável e um desserviço à população. “Assistimos ontem estarrecidos ao pronunciamento do presidente da República em direção contrária às recomendações do próprio Ministério da Saúde, de organizações de saúde internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, de cientistas e de governos de todo o mundo. Em um momento crítico como este, esperávamos ouvir um pronunciamento do chefe de Nação que trouxesse medidas efetivas para o enfrentamento da pandemia, orientações bem fundamentadas, escoradas na experiência de outros locais, no conhecimento científico acumulado e nas instituições e profissionais da saúde.”
Veja o texto na íntegra: O Estado de S. Paulo