“Estamos em uma democracia rasurada”, afirma Fernanda Sobral

A vice-presidente da SBPC e professora da UnB participou nessa quarta-feira do debate “Pela Democracia e pela Vida”, durante o Congresso Acadêmico Unifesp 2020

Para Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a situação imposta pela pandemia do novo coronavírus, conforme explicita o Manifesto do Pacto pela Vida e pelo Brasil, “clama pela união d e toda a sociedade brasileira, já que a humanidade está sendo colocada à prova”. A declaração foi feita durante o debate “Pela Democracia e pela Vida”, realizado nessa quarta-feira, durante o Congresso Acadêmico Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) 2020.

A atividade contou ainda com a participação de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG), Iago Montalvão, estudante de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), e Nelson Sass, vice-reitor da Unifesp.

Para Sobral, em uma verdadeira democracia, é preciso procurar a redução das desigualdades sociais nas suas diferentes dimensões: socioeconômicas, de gênero, de raça e no acesso à educação e à saúde. “Por essa razão, costumo afirmar que estamos, atualmente, numa democracia rasurada, ou mesmo mutilada.”

Sobral ressaltou que a SBPC, que completou 72 anos de criação no dia 8 julho, tem uma luta histórica pela ciência, pela educação, pelo meio ambiente, pela saúde e pelos direitos sociais, questões que estão sempre inseridas na construção, consolidação e fortalecimento da democracia de um país. Diante do momento que o País está vivenciando, Sobral disse que a atuação da entidade não seria diferente e ressaltou algumas das ações da SBPC, que se juntou a organizações da sociedade civil em movimentos em defesa da democracia e da vida, como as Marchas Virtuais pela Ciência, realizada em maio, e pela Vida, que aconteceu em junho, e a campanha #BrasilpelaDemocracia #BrasilpelaVida, lançada em 29 de junho.

Dentro desta campanha, ela destacou, particularmente, a sessão que a SBPC organizou para a “Virada pela Democracia”, em 5 de julho – um painel sobre “As Ciências e a Democracia”. Nessa atividade, os convidados de várias sociedades científicas puderam mostrar o significado da democracia para as diferentes áreas do conhecimento e sua importância para a prática científica. “Foi muito interessante ver cientistas da área de Saúde e da Vida, com cientistas das Humanidades e das áreas de Exatas e Tecnológicas falando sobre democracia. Se a Ciência Política mostrou que a democracia é seu objeto de estudo e também um dos focos de sua produção científica, a Biologia trouxe o fato de que a produção de fármacos e vacinas para toda a população é um requisito da democracia. A questão também foi apontada pela Química quando mostrou que a criação de novos produtos e processos devem permitir o aumentar da qualidade de vida das pessoas sem nenhuma discriminação de raça, classe ou gênero”.

Sobral, que é professora aposentada e colaboradora sênior do Programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), afirma ainda que a busca pela democracia como a preservação da vida explicita a importância da integração entre as ciências. Diante da pandemia que nos assola atualmente, podemos dizer que “Se por um lado, as ciências da saúde e biológicas estão na linha de frente dos diagnósticos e tratamentos, vemos também áreas como matemática, computação e estatística, apoiando com projeções, modelos e dados, e as ciências humanas e sociais oferecendo contribuições no que se refere aos impactos sociais e econômicos”, disse.

A educação pública foi um dos pontos levantados por Nelson Sass, vice-reitor eleito da Unifesp. Para ele, a educação deve de ser pública e de qualidade e que atinja a todos, sem distinção. “A educação é tão importante quanto a saúde. Ambas precisam ser universais”, disse.

Jornal da Ciência