Ana Carolina Botelho Lucena, aluna do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), e Nallanda Victoria dos Santos Martins, estudante do Colégio Estadual Doutor Antonio Garcia Filho, Umbaúba (SE), receberão menção honrosa na 2ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” no nível ensino médio. Realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), nesta edição a entidade premia a categoria “Meninas na Ciência”, cujas pesquisas de iniciação científica demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição com a ciência no futuro.
O 2º Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” recebeu indicações de 286 candidatas de 116 instituições, oriundas de 18 estados e 70 municípios de todas as regiões do País. Do total de inscritas, 90 são do Ensino Médio.
O anúncio das vencedoras foi no dia 15 de janeiro e a cerimônia de premiação será realizada virtualmente na próxima quinta-feira, 11 de fevereiro, Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O evento, que contará com a participação das vencedoras, homenageadas e integrantes da comissão julgadora, será aberto a todos, com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube, a partir das 10h30.
Conheça abaixo um pouco mais sobre das estudantes que receberão menções honrosas no nível Ensino Médio.
Escravidão no século XIX
Aos 17 anos, Ana Carolina Botelho Lucena, da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA), recebe menção pelo projeto de pesquisa “A morte como testemunho da vida: família e escravidão nos testamentos do Centro de Memória da Amazônia (Belém, Pará, c.1800-1850)”.
Segundo a estudante, o projeto surgiu enquanto era bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Pibic-EM/CNPq). Entre agosto de 2019 e julho de 2020, ela esteve envolvida no projeto de pesquisa “O silêncio de Himeneu: casamento, compadrio e relações familiares de escravos na Belém oitocentista”, coordenado pelo professor Daniel Souza Barroso.
No mesmo ano, ela participou do projeto de extensão “Cartografia da Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, no grupo de estudos “Diversidade religiosa: conhecer para não discriminar”, permitindo que ela ampliasse seu interesse pela história dos africanos e dos afrodescendentes na Amazônia. Neste período, estudou religiões de matriz africana e afro-brasileira como a Umbanda, o Candomblé e o Tambor de Mina. Ela apresentou os resultados de ambos os projetos na programação do Dia da Consciência Negra (2019) e no Fórum da Coordenação de Pesquisa e Extensão da EAUFPA.
A estudante, que deseja ser historiadora, diz que receber a menção honrosa é um grande incentivo para continuar acreditando em seu sonho. “Saber que o meu primeiro trabalho científico recebeu tamanho reconhecimento me dá fôlego para continuar na minha caminhada acadêmica.”
Ela também acredita que a sua premiação poderá servir de exemplo para outras meninas. “Enquanto mulher, preta e pobre, alcançar certos lugares se torna um ato revolucionário. Fiquei imensamente feliz ao receber a menção honrosa, por entender a importância de termos mulheres pretas na ciência e por ser uma delas. Espero que não pare por aqui e que eu possa ser exemplo para outras meninas pretas que sonham com seu crescimento acadêmico, mas que são travadas por um sistema racista. Que possamos continuar ocupando espaços que contradizem aquilo que nos é imposto”, afirma.
Da mandioca ao bioplástico
Nallanda Victoria dos Santos Martins, do Colégio Estadual Doutor Antônio Garcia Filho, da cidade de Umbaúba, município no sul de Sergipe, também recebe menção honrosa na 2ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, pelo seu trabalho “Casa de farinha: da mandioca ao bioplástico”.
O projeto começou durante uma aula interdisciplinar de Química e História, onde os alunos visitaram uma casa de farinha. Segundo ela, a maioria dos alunos são filhos de pequenos agricultores que cultivam a mandioca como fonte de renda e subsistência. Durante a visita, os alunos perceberam a grande quantidade de cascas que eram descartadas de forma incorreta e foram motivados pelas professoras a encontrar uma solução sustentável. “Depois de um tempo vimos que a melhor opção seria produzir um bioplástico com as cascas da mandioca adaptando os reagentes para a nossa realidade”, explica.
O projeto conquistou diversos prêmios nacionais e internacionais em feiras científicas: 2º lugar geral na categoria ensino médio das escolas públicas na Feira Estadual de Ciências, Tecnologia e Artes de Sergipe (Cineart) na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 2019; Prêmio Most Outstanding Exihibit in Computer Science, Engineering, Physics, or Chemistry, concedido pela The Yale Science & Enginnering Association, em 2020; Prêmio Destaque Unidades da Federação como o melhor projeto científico do Estado de Sergipe apresentado na Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace) da Universidade de São Paulo (USP), em 2020; 4º lugar em Ciências Exatas e da Terra na Febrace, em 2020; 1º lugar no Prêmio de Excelência e Inovação do InnovaLab na Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC), em 2020; 2º Lugar na categoria ciências agrárias na Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC), em 2020.
Na opinião da jovem, além das premiações darem visibilidade aos projetos científicos, isso também mostra que as meninas são capazes estar à frente de pesquisas. “É muito gratificante ver um projeto desenvolvido dentro de uma escola pública, numa cidade do interior de Sergipe chegar tão longe.”
Com a intenção de fazer alguma graduação na área da saúde, Nallanda Victória pretende seguir com outras pesquisas na área acadêmica.
Vivian Costa – SBPC