O
diretor geral do Instituto LabCHIS, Eduardo Moreira da Costa,afirma que uma
cidade inteligente busca as melhores soluções para desenvolver a sua economia e
aumentar o bem-estar dos seus cidadãos
O Brasil não conta com nenhuma cidade humana e
inteligente, e para isso acontecer primeiramente é preciso mudar a cultura do
carro nas pessoas. A afirmação foi do conferencista Eduardo Moreira da Costa,
diretor geral do Instituto LabCHIS (Cidades mais Humanas, Inteligentes e
Sustentáveis) com bases na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e no
Rio, e professor do Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento da
UFSC.
A conferência “Cidades inteligentes e humanas” foi
proferida no primeiro dia de atividades da Reunião Regional da SBPC, que vai
até o próximo sábado (08), em Palhoça (SC). “Todo mundo quer um carro. E não
pensam nas consequências que isso pode trazer para a cidade, inclusive o custo
que tem com o automóvel”, observou.
O especialista afirma que a recuperação humana das
cidades diz respeito a pensar esses espaços para as pessoas e não para os
carros. Isso implica em ruas menores, calçadas, ciclovias em vez de vias
expressas.
Para ele, para desenvolver as “HumanSmartCities” (Cidades
humanas e inteligentes) é preciso desenvolver um projeto que proporcione
condições para que as pessoas morem, se divirtam e trabalhem no mesmo lugar,
cuja locomoção ideal seja à pé, de bicicleta ou de transporte público de
qualidade.
“Temos que pensar nas maneiras de transformar nossas
cidades, que estão um caos completo, em cidades mais agradáveis de se viver.
Isso tem a ver com tecnologia, mas também com comportamento. Não é só colocar
câmeras e centrais de controle, apesar de isso ser importante. Também é preciso
trabalhar o comportamento, a atitude das pessoas, a regulação da cidade, o
plano diretor municipal, tudo que é importante para tornar a cidade mais
habitável”, disse.
Segundo Costa, Paris é o melhor exemplo de cidade
inteligente. “O arquiteto que desenhou a cidade se baseou nas antigas vilas
medievais que tinham uma milha de raio, por causa da locomoção. Ela foi
construída em outras condições, mas que funciona muito bem nos dias atuais, já
que a locomoção das pessoas é feita de transporte público, no caso metrô. É uma
cidade impossível de se andar de carro. Não há nem local para se estacionar.
Todos os bairros contam com serviços essenciais, o que é ideal”, comenta.
No sentido oposto, as cidades de São Paulo e Brasília são
consideradas nada humanas ou inteligentes no País, por causa dos grandes
congestionamentos e da falta de calçadas para se caminhar. “Mas muitas pessoas
não pensam em mudanças. Se perguntarmos para qualquer brasileiro se eles querem
mais calçadas ou ciclovias, com certeza eles responderão que querem mais
pontes, avenidas, estacionamentos. Ou seja, a cultura do carro impera no País”,
lamenta. Segundo Costa, a atual gestão do Rio de Janeiro tem pensado em
transformar a cidade em mais humana e por isso tem realizado obras que buscam
proporcionar uma vida mais sustentável à população.
Costa também citou como bons modelos sustentáveis no Rio
de Janeiro as balsas de travessia entre a cidade e Niterói, desafogando o
trânsito da ponte Rio-Niterói. “Aqui em Florianópolis, que poderia ser
implementado um transporte do tipo, ninguém pensa na hipótese. Pelo contrário,
todos querem mais uma ponte para chegar à ilha, para desafogar o trânsito
causado nos horários de pico entre a ilha e o continente. Ninguém nem pensa em
construir balsas para desafogar o trânsito, porque isso implicaria em oferecer
transporte público de qualidade para essas pessoas que deixariam os carros em
casa”, lamenta.
Quanto às mudanças, Costa disse que todos são responsáveis
e que não podem só esperar mudanças do governo. “Alguns prefeitos têm
construído ciclovias nas cidades, mas as empresas precisam oferecer chuveiro
nos locais para que as pessoas possam ir de bicicleta e se arrumem no local. E
isso pode ser uma negociação entre patrão e empregado. O governo não precisa
intervir nisso”, exemplifica.
O processo é dinâmico, por isso deve ser desenvolvido com
continuidade, afirma. “Temos que trabalhar isso continuamente, para que a
cidade seja cada vez mais agradável. Há um conceito muito importante, que é
pensar a cidade para a criança. Imaginar como a cidade seria, para ser legal
para as crianças. Quando ela for legal para as crianças, será legal para todos
nós”, finaliza.
Vivian
Costa – Jornal da Ciência