Simpósio da ABC abre espaço para experiências bem sucedidas de universidades
Formar indivíduos que aceitem desafios e sejam mais criativos. Esse é o principal foco dos novos modelos de educação superior que foram apresentados nesta quarta, dia 23/9, no Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro. As universidades Federal do ABC (UFABC), Federal do Sul da Bahia (UFSB) e a chilena Universidade da Frontera (UFRO) são exemplos de instituições que já atuam nessa direção.
O professor Luiz Bevilaqua, ex-reitor da UFABC, disse que o modelo paulista está pautado em quatro princípios fundamentais: é mais importante aprender do que ensinar; o conhecimento é inter e multidisciplinar; estimular uma comunidade acadêmica e a publicação é para alavancar o conhecimento e não para engordar o currículo dos professores.
“A UFABC começou do zero e, por consequência, com infinitas possibilidades de construir um novo modelo de ensino superior. Esse degrau de liberdade permitiu ao comitê encarregado de propor a estrutura desta universidade criar um plano acadêmico completamente novo, livre de amarras internas e de restrições externas”, explicou Bevilaqua.
Até a chegada da UFABC em 2005/2006, as sete cidades de região (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) apresentavam uma enorme demanda de vagas no ensino público superior. O ABC possuía mais de 2,5 milhões de habitantes e uma oferta de 45 mil vagas distribuídas em 30 Instituições de Ensino Superior, sendo a grande maioria privada. Dos cerca de 77 mil estudantes matriculados no ensino superior na região, cerca de 65% estavam em instituições privadas, 20% em municipais e 15% na rede comunitária filantrópica. Com a exceção de uma porcentagem ínfima de instituições que desenvolviam atividades de pesquisa, todas as demais se dedicavam apenas ao ensino. No setor de tecnologia e engenharia poucas apresentavam investimentos em pesquisa aplicada.
Nova organização acadêmica
A estrutura da universidade não tem departamentos e sim três grandes escolas: Centro de Ciências Naturais e Humanas; Centro de Matemática, Computação e Cognição e Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas. “O estudante entra para a universidade e não para um curso específico. Procuramos estimular a criatividade, o estudo individual, a autoconfiança para que ele aprenda, entre outras coisas, a tomar decisões”, disse o ex-reitor da UFABC.
Após concluir o número requerido de créditos, um mínimo de 190, o aluno obtém o diploma de Bacharel em Ciência e Tecnologia, se habilitando a prosseguir os estudos rumo à Graduação em Engenharia, Ciências da Natureza, Matemática ou Ciência da Computação. Para alunos que desejam se dedicar às atividades acadêmicas, outra possibilidade, é o ingresso em estudos de Pós-Graduação.
Bevilaqua revelou que o modelo enfrentou muita resistência por parte dos políticos locais, da imprensa e até de professores. “´Foi preciso ter coragem para prosseguir, mas valeu a pena”, disse.
Exemplo chileno
A Universidade de la Frontera (UFRO) fica no norte do Chile, na região de Araucanía, com uma grande população indígena. Atualmente são seis faculdades, e 9 mil estudantes de graduação, desses 23% são indígenas. O professor Sergio Bravo, reitor da instituição explica que o país tem uma alta heterogeneidade e grande competição entre as universidades. “Nosso foco é levar a graduação de qualidade aos setores mais pobres da sociedade”, revelou.
A UFRO é uma instituição pública de ensino superior e está entre as melhores do país, por seus notáveis indicadores de qualidade e excelência. Criada em março de 1981, a universidade passou de um orçamento de 40 milhões de dólares em 2005 para 90 milhões em 2013.
A Universidade oferece 40 cursos de graduação, sete cursos de doutorado, 28 cursos de mestrado, 14 programas de especialidades médicas, três programas de especialidades odontológicas, oito programas na especialidade de enfermagem, programa de especialidade em obstetrícia e programa de especialidade em engenharia.
A UFRO está buscando expandir suas fronteiras. Ela mantém um convênio de dupla titulação e/ou co-tutela de teses de doutorado com o Brasil, Itália e França, além de convênios de pesquisa e mobilidade para pós-graduação com a Fapesp e Faperj. “Hoje alcançamos a estabilidade financeira, temos uma perspectiva de futuro bastante otimista e uma gestão baseada em resultados”, revelou Bravo.
Começando do zero
A Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) nasceu com o desafio de interiorizar o ensino superior na área de pior cobertura universitária do Brasil. Criada em 2013 pela Lei 12.818, a UFSB foi concebida para atender às exigências de uma nova conjuntura econômica e política do País e do mundo contemporâneo, bem como às especificidades sociais e econômicas da região sul do estado da Bahia. Para atender a essa finalidade, a UFSB tem campi instalados nos municípios de Teixeira de Freitas, Porto Seguro e Itabuna (sede da Reitoria). Cada campus coordena uma rede descentralizada de Colégios Universitários, utilizando instalações da rede estadual de ensino médio – a Rede Anísio Teixeira de Colégios Universitários.
O professor Naomar Almeida Filho, reitor da UFSB explicou que a proposta da universidade é inspirada na UFABC e que enfrentou grandes dificuldades, entre elas a fixação dos docentes. “Estamos conseguindo superar os desafios e promovendo a integração social, o desenvolvimento regional e a excelência acadêmica”, revelou.
O projeto pedagógico propõe um regime letivo quadrimestral, um currículo modular e flexível, com Bacharelados e Licenciaturas interdisciplinares. “Não há departamentos ou faculdades, um modelo totalmente inovador de universidade”, disse Almeida. Além de um primeiro ciclo de formação geral, o ensino está distribuído em quatro áreas: Ciências e Tecnologias, Artes, Saúde e Humanidades.
Hoje a UFSB conta com 600 professores e cerca de 20 mil estudantes, com 85% de cotas para alunos oriundos de escolas públicas. O orçamento de 2014 é de R$ 8 milhões. “Considero que fomos um risco assumido e bem sucedido”, afirmou.
(Edna Ferreira/Jornal da Ciência)