Em palestra de encerramento da XI Jornada de Iniciação Científica e V Mostra de Extensão da Universidade Presbiteriana Mackenzie, nesta manhã (09 de outubro), Helena Nader enfatizou também a luta constante da ciência brasileira e a necessária continuidade na política de expansão do sistema de ensino de pós-graduação nacional
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, relatou diversos desafios da ciência brasileira durante sua palestra “Agenda positiva para o financiamento da pesquisa e da pós-graduação no Brasil”, durante o encerramento, nesta sexta-feira (9), da XI Jornada de Iniciação Científica, a V Mostra de Iniciação em Tecnologia e Inovação e V Mostra de Extensão da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Os três eventos simultâneos, que começaram na quarta-feira (7), buscam incentivar a pesquisa e a extensão na Universidade e divulgar os trabalhos já realizados, com sessões de comunicação oral e apresentação das pesquisas. Os eventos foram promovidos pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, via Coordenadoria de Pesquisa, e pela Pró-Reitoria de Extensão e Educação Continuada.
Na apresentação da palestra desta sexta-feira, o reitor da Universidade, Benedito Guimarães Aguiar Neto, agradeceu a presença de Helena Nader e ressaltou a importância da SBPC, que este ano completa 67 anos. “A história mostra que a SBPC tem um papel importante na ciência brasileira, inclusive durante a criação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O importante é que ela continua sendo muito respeitada pelo trabalho que executa”, disse ao lembrar que o Mackenzie quer caminhar junto com a instituição em prol do crescimento da ciência e tecnologia brasileira.
Palestra
Em sua apresentação, Nader falou sobre a trajetória da ciência nacional e ressaltou sua importância para a sociedade. “O Brasil só vai mudar com muita educação e ciência. É preciso ampliar essa visão e mostrar que a ciência tem que estar eticamente inserida na sociedade”, disse lembrando que é preciso lutar para que os investimentos não cessem.
Ela também lembrou que parte dos avanços no desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) no Brasil foram graças aos investimentos do governo, mas que parte deles estão ameaçados, como por exemplo, a diminuição dos recursos destinados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). “Infelizmente é uma luta constante. Os financiamentos vivem ameaçados”, lamentou.
A presidente da Sociedade citou números do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) que mostram que o Brasil melhorou, mas que ainda tem muito que avançar. Ao se comparar o desempenho brasileiro em leitura, matemática e ciências com os países do topo da lista, o Brasil está significativamente abaixo da média.
Conforme também observou, os jornais costumam menosprezar a ciência brasileira, mas o País tem bons exemplos de sucesso, como a Petrobras e a Embraer. “A Embraer surgiu no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Hoje ela é uma empresa privada, combinando o conhecimento tecnológico e industrial com uma cultura empreendedora, e é uma das principais fabricantes mundiais de aeronaves comerciais e executivas, com forte e crescente atuação em defesa e segurança”, disse.
Quanto à Petrobras, ela citou o sucesso da perfuração de poço direcional de 85º. “A adoção dessa técnica, em substituição à perfuração de poços verticais, proporciona maior contato do poço com o reservatório e, consequentemente, o aumento de produção com menor número de poços produtores”, explicou.
Ainda que as conquistas mereçam destaque, os diversos desafios para que a ciência brasileira avance são considerados prioridade neste momento. “Apesar de grandes esforços realizados no sentido de promover avanços em programas de pós-graduação nos últimos 30 anos, há uma evidente distorção entre regiões brasileiras, o que mostra a necessidade de uma política de longo prazo, a fim de se corrigir este problema”.
Nader também acredita que a continuidade na política de expansão do sistema de ensino de pós-graduação nacional, como duplicar, em cinco anos, o número de professores de física e química; e em 10 anos, o número de cursos de graduação em engenharia, física, química e nas áreas de farmacologia e drogas. E enfatizou, ainda, a necessidade de uma política forte para melhorar a qualidade de engenharia e ciências exatas.
O evento
Quanto ao evento, ela salientou que uma universidade que tem um projeto de iniciação científica demonstra sua aposta no futuro da nação. “Eu estou muito satisfeita de ver o crescimento do programa de pós-graduação nesta instituição, com diversos programas, muitos deles reconhecidos nacionalmente”, afirmou. E completou, “para você motivar o aluno para a carreira científica, a iniciação é fundamental, porque a pós-graduação, para quem já fez uma iniciação, é quase uma consequência”.
A presidente da SBPC ressaltou também que gosta de estar próxima aos estudantes de graduação. “Eu gosto de aliciar jovens para a carreira de ciência, porque nela somos nós quem decidimos o que pesquisar, como pesquisar. Você executa as suas próprias ideias. Eu até hoje continuo dando aula na graduação porque a gente consegue entusiasmar os jovens”, finalizou.
(Vivian Costa/Jornal da Ciência)