Pesquisador da Universidade de São Paulo, em São Carlos, já registrou 15 patentes na área de nanotecnologia aplicada à melhoria de diagnósticos, terapias e processos regenerativos
O Brasil deu um grande passo em direção à regulação do uso de nanomateriais para diagnóstico, terapia e medicina regenerativa. Desde o ano passado, a partir de uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o país passou a fazer parte da NANoREG, uma plataforma de nanorregulação organizada pela comunidade europeia há três anos, com 16 países participantes, a partir de incentivos da academia e da indústria.
Ao fazer parte da NaNoREG, o Brasil incluiu oito grupos de pesquisa que passam a fazer testes com nanomateriais em laboratórios. “Com a entrada do Brasil, a Anvisa poderá usar as recomendações da NaNoREG”, diz Valtencir Zucolotto, membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor associado (livre docente) no Instituto de Física de São Carlos – IFSC da Universidade de São Paulo (USP), onde coordena o Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia GNano/IFSC/USP.
No primeiro dia da 67ª Reunião Anual da SBPC, que acontece na UFSCar, em São Carlos (SP), até 18 de julho, Zucolotto prendeu a atenção de uma plateia formada por pesquisadores e estudantes de diversas áreas ao explicar como o uso de nanomateriais está contribuindo para o avanço da medicina diagnóstica e terapêutica.
De acordo com Zucolotto, o avanço das pesquisas na utilização da nanotecnologia para facilitar diagnósticos, terapias e ampliar os resultados da medicina regenerativa já é uma realidade no Brasil. No âmbito dos diagnósticos, Zucolotto destacou a parceria que o Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia GNano/IFSC/USP vem desenvolvendo com o Hemocentro de Ribeirão Preto. Ele explicou que começou a produzir nanomateriais para melhorar a qualidade do sistema para detectar células leucêmicas.
“Recobrimos as nanopartículas com uma proteína natural, extraída da jaca, a jacalina”, destacou.
Ainda na área de diagnósticos, ele citou os trabalhos que seu grupo vem desenvolvendo com nanosensores para detectar baixos índices de adiponectina, um hormônio proteico que modula vários processos metabólicos, incluindo a regulação da glicemia e o catabolismo de ácidos graxos. Quando um paciente começa a apresentar quedas nas taxas desse hormônio, ele pode estar prestes a desenvolver um tipo de diabetes.
“Os testes convencionais para detecção desse hormônio são muito caros. A nanotecnologia reduziu esse custo. Quem apresenta uma redução desse hormônio precisa ficar alerta”, ressaltou Zucolotto, que já tem 15 patentes registradas.
Outro trabalho do grupo coordenado por Zucolotto usa sensores com nanoeletrodos para detectar a proteína não-estrutural 1 (NS1), liberada pelo vírus da dengue após a infecção. No âmbito das terapias, o uso de nanomateriais vem contribuindo para o sucesso de smart drug delivery, ou entrega controlada de medicação no corpo do paciente. Zucolotto diz que a técnica vem sendo bem-sucedida, sobretudo, em casos em que é necessário ministrar drogas muito tóxicas, como na quimioterapia.
(Suzana Liskauskas/ Jornal da Ciência)