Denise Barrozo de Paula, 23 anos, afirma que sempre foi movida pela vontade de participar ativamente de alguma profissão que pudesse promover mudanças sociais. Essa característica a conduziu para a graduação em Psicologia, mas não só, ela também queria ser pesquisadora.
Graduada em Psicologia pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Denise Barrozo de Paula é uma das vencedoras da 4ª edição do Prêmio Carolina Bori na categoria “Meninas na Ciência”, na área de Humanidades, pelo estudo de Iniciação Científica “Representações, sentidos e valores da menina negra na literatura infanto-juvenil: um estudo a partir do livro ‘A Cor da Ternura’ de Geni Guimarães”.
“Eu não sabia que eu ia cair na Psicologia Social, mas eu sabia que queria fazer pesquisa porque na época eu me identificava com os relatos das professoras em relação à área de trabalho”, contou.
Para chegar ao tema da pesquisa premiada este ano, Barrozo de Paula explica que o primeiro caminho escolhido por ela entre vários possíveis era sobre “corpos desviantes”, ou seja, aqueles que desviam da norma hetero-branco-europeu. LGBTQIA+, população negra, Pessoas Com Deficiência (PCD), classes sociais mais baixas estavam no radar, mas ela decidiu dar foco na raça negra por sua identificação.
Ao se aprofundar nos estudos sobre a consciência negra, ela identificou a importância da questão da representação identitária. “E aí juntou tudo, era um tema que era voltado para literatura, só que não tinha um recorte específico ainda. Então eu juntei com algo que eu acreditava que era importante, porque eu pensava assim na minha infância e na minha adolescência, não via livros voltados para meninas negras, para mulheres negras e quando tinha, essas representações eram muito caricatas, sexualizadas.”
Muita leitura e pesquisa depois, ela chegou ao livro de Geni Guimarães. “Baseada nessa obra, fiz uma análise pensando na potência da menina negra, um contraponto de tentar sair desse imaginário social no qual, por exemplo, as princesas são bondosas, os homens são fortes e corajosos, mas são sempre pessoas brancas, não são pessoas negras.”
O trabalho apresentou vários desafios, mas o mais importante, na visão dela foi a falta de um referencial teórico disponível, na linha que ela buscava para a sua pesquisa. “A minha pesquisa tinha poucas coisas na internet que se voltavam para as meninas negras e que falassem de Literatura e de Psicologia ao mesmo tempo”, explicou.
E como quase todas as meninas na ciência, Barrozo de Paula enfrentou os obstáculos de gênero e, no caso dela, também os raciais. “Quando perpassa sobre mim, existe a questão de ser uma mulher, mas existe mais a questão de raça. Então, eu acho que passa muito nessa discriminação, ocorreu algumas vezes, sim.”
Para o futuro, Denise Barrozo de Paula quer seguir a pesquisa no mestrado, mas também quer atuar com clínica. Segundo ela, o Prêmio Carolina Bori foi um incentivo para seguir nessa trajetória.
“Eu fiquei muito feliz, porque foi meio inusitado, eu não esperava. Eu olhei meu e-mail e (pensei) ‘nossa caramba! Eu ganhei um prêmio! ’. Então, acho que esse sentimento de reconhecimento da pesquisa, de como isso é importante, vai abrindo um caminho, não só na universidade que eu estudei, mas também abre um caminho para pessoas que me acompanham na rede”, declarou.
Para ela, trata-se também de inspiração para outras meninas. “Eu acho que é bem importante esse tipo de premiação, porque realmente incentiva meninas desde o ensino médio a pensar na importância da pesquisa e incentivar para que outras meninas vejam que é possível chegar nesse lugar de pesquisa.”
Janes Rocha – Jornal da Ciência