Fernanda Sobral recebe Prêmio Florestan Fernandes da Sociedade Brasileira de Sociologia

Diretora da SBPC e professora emérita da UnB, a pesquisadora tem uma trajetória acadêmica dedicada a ações e reflexões sobre política científica e maior integração entre ciência e sociedade

WhatsApp Image 2025-07-17 at 16.07.14Fernanda Sobral, professora emérita da Universidade de Brasília (UnB) e diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), foi homenageada com o Prêmio Florestan Fernandes, concedido pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) desde 2003. A cerimônia ocorreu na abertura do 22º Congresso Brasileiro de Sociologia, na terça-feira, 15 de julho. Também foram premiadas Elide Rugai Bastos, professora emérita da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Maria Arminda do Nascimento Arruda, professora titular da Universidade de São Paulo (USP).

Em seu discurso, Fernanda Sobral relatou a emoção ao saber da premiação. “Foi uma grande alegria receber esse reconhecimento. Não apenas pela minha trajetória profissional, mas especialmente por vir da SBS, entidade com a qual tenho uma relação antiga e afetuosa. Além disso, o prêmio leva o nome de Florestan Fernandes, um dos maiores sociólogos brasileiros, cuja atuação combinava rigor analítico e compromisso com a justiça social.”

Sobral destacou que sua trajetória acadêmica está profundamente ligada à história da Sociologia na UnB, onde cursou mestrado e doutorado, e atuou como docente por mais de 40 anos. “Foi lá que lecionei, pesquisei e orientei trabalhos acadêmicos, além de exercer funções como chefe de departamento, coordenadora da pós-graduação, diretora do Instituto de Ciências Sociais e, por fim, diretora de pesquisa. Minha carreira cresceu junto com a consolidação institucional do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UnB, e da linha de pesquisa em Educação, Ciência e Tecnologia. Essa homenagem também é, portanto, um reconhecimento à Sociologia da UnB.”

Sobre sua produção acadêmica, Sobral explicou que sempre se dedicou a estudar as condições de produção do conhecimento, tanto do ponto de vista cognitivo, intrínseco ao processo científico, quanto das dimensões socioinstitucionais, ligadas ao contexto político e econômico. Ela enfatizou que essas dimensões são inseparáveis e que os congressos da SBS demonstram como esses fatores sociocognitivos moldam o conhecimento sociológico. “O próprio tema deste congresso, ‘O mundo contemporâneo desafia a Sociologia’, é um exemplo claro disso.”

A professora também ressaltou sua atuação em conselhos e comitês de instituições como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Nos últimos anos, disse ter tido o privilégio de transformar seu objeto de estudo em prática de militância, especialmente como vice-presidente e diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. “Na SBPC, tenho convivido com diferentes áreas do conhecimento, o que me permitiu dialogar com as Humanidades e também com as Ciências Exatas e Naturais. Não se trata de submeter uma área à outra, mas de construir pontes e mostrar como as Ciências Sociais são fundamentais para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.”

Ela relembrou ainda sua participação nas mobilizações pelo desbloqueio dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e sua atuação, em 2024, como representante da SBPC no Conselho Deliberativo do Fundo. “Tenho defendido que a ciência e a tecnologia devem responder às necessidades coletivas. Exemplos disso são os programas voltados à erradicação da fome, agricultura familiar, valorização de acervos e museus, divulgação científica, e a análise dos impactos sociais de políticas públicas, como as que tratam das mudanças climáticas e da Inteligência Artificial.”

Para finalizar, Sobral disse que é uma grande honra receber um prêmio com o nome de Florestan Fernandes, que foi presidente da SBS de 60 a 62 e que teve uma grande relevância como cientista e como político. “Ele acreditava que o sentido da ciência era produzir conhecimento fundamentado em rigorosa base empírica, teórica e metodológica, a fim de contribuir para a transformação social e o combate das iniquidades e injustiças sociais prementes. Acompanhei de perto a sua atuação como político, quando participei da pesquisa ‘Universidade e Pesquisa na Nova Constituição’, com as professoras Maria Lucia Maciel, Ana Maria Fernandes e Maria Francisca Coelho, entre outros, durante a Constituinte, e na qual pude acompanhar as Comissões de Educação e de Ciência, Tecnologia e Comunicação. Nessa ocasião, a discussão principal abordava a garantia de recursos públicos para as universidades públicas e também para a pesquisa básica que deveria preservar a sua autonomia. E Florestan Fernandes defendia com ênfase essas questões. Tanto que uma vez o escutei afirmar que pior do que a fome, (fez uma pausa e respirou fundo), seria a falta de educação. Fiquei atordoada com o que seria pior que a fome.  Mas entendi depois, e a citação correta é a seguinte: ‘a educação é o mais grave dilema social brasileiro. A sua falta prejudica da mesma forma que a fome e a miséria, ou até mais, pois priva os famintos e miseráveis dos meios que os possibilitem a tomar consciência da sua condição, dos meios de aprender a resistir a essa situação’.”

Carreira

Fernanda Antônia da Fonseca Sobral começou sua trajetória acadêmica em 1968, quando entrou na graduação em Ciências Sociais, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

De inquietação em inquietação, Sobral chegou à UnB, onde fez o mestrado em Ciências Sociais e o doutorado em Sociologia. Anos depois, passou de discente para docente, integrando o corpo de professores do Programa de Pós-graduação em Sociologia da entidade – programa onde ainda é colaboradora sênior. Em 2021, Fernanda Sobral foi reconhecida como professora emérita da UnB.

Para a cientista, a ciência e a sociedade são articuladas. A sua visão fez com que ela participasse de diversos conselhos de entidades governamentais, de modo a debater a construção e a evolução da política científica no País.

Foi secretária-executiva da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS, 1995-1997); integrante do Comitê Assessor de Ciências Sociais no CNPq (1998-2000); pesquisadora visitante do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), de 2009 a 2011; integrou o Conselho Superior da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF, 2007-2010 e 2014-2016) e também foi membro do Conselho Consultivo da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, de 2016 a 2018).

Participou do Conselho da Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias, a Esocite, de 2017 a 2022, e do Conselho Superior da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), de 2018 a 2020. Na SBPC, foi vice-presidente em duas gestões (2019-2021 e 2021-2023), conselheira da entidade em dois períodos (2005 a 2007) e (2015-2019), e recentemente, é secretária da entidade, de 2023 a 2025.

Vivian Costa – Jornal da Ciência