Richard Feynman, como descrito na bela crônica do presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira (“O Nobel que ajudou a desenvolver a física no Brasil e pulou Carnaval”, Folha de S. Paulo, 11/05/2018), foi de grande importância
para o desenvolvimento da Física e do ensino da ciência no Brasil. Eu, como recém-formado na Física, tendo como orientador Joaquim da Costa Ribeiro e professores como Jayme Tiomno – o primeiro a convidar Feynman ao Brasil, acompanhei algumas das peripécias de Feynman. Uma delas, quase uma piada, a mais na longa lista das estórias:
O grande Álvaro Alberto, criador com Costa Ribeiro do CNPq, perguntou a Feynman:
Vamos receber seu antigo professor Oppenheimer que visita o Brasil. Você não quer ensinar a ele a tocar bongô? Isso porque Feynman adorava ritmos brasileiros e até desfilou no Carnaval (como conta Ildeu na sua crônica). Resposta de Feynman: Nunca! Essa é a única coisa que eu sei que ele não sabe!
A outra situação foi meio dramática para mim e nunca a esquecerei: Fui eleito muito jovem para a Academia Brasileira de Ciências e, naturalmente, ainda inseguro. Minha estreia foi tremendamente apavorante: apresentar uma teoria molecular sobre o Efeito Costa Ribeiro que eu tinha proposto. Na primeira fila estavam Oppenheimer e Feynman!
Apresentei minhas ideias e resultados e, ao final, Feynman com seu estilo desabrido só faltou dizer que era tudo bobagem. Eis que o grande Oppenheimer saiu em minha defesa e concordou com minhas ideias! “Gloria a Deus nas alturas”, diria minha mãezinha querida! Depois Oppenheimer me cumprimentou ao final da sessão e aquilo para mim foi inesquecível e
motivo decisivo para minha autoconfiança.
Gozado é que quando muito mais tarde fui professor visitante em Princeton e depois fellow no Instituto de Estudos Avançados, tive como doce amigo o grande Freeman Dyson, companheiro histórico de Feynman! Ele me contou muitas historias da famosa viagem que fez costa a costa dos Estados Unidos com Feynman. Dyson foi o grande expositor dos métodos de Feynman, denominados Feynman Diagrams. Muita gente não entende porque Dyson não ganhou o Nobel.
Mas vamos à historia de Feynman em Princeton apresentando sua tese de PhD: Havia muita critica às ideias dele, e ele foi aconselhado a pedir a presença de Einstein na apresentação. Einstein, ali perto, no famoso Instituto de Estudos Avançados, que foi criado pelo grande A.Flexner para recebê-lo da Alemanha nazista, independente da Universidade de Princeton, mas em íntimas colaborações. Eis que frente às criticas das ideias de Feynman, Einstein as defende!
Sei que Feynman disse depois que foi a sua grande glória contra seus adversários! Eu, na minha modesta situação de latino-americano, brasileiro, subdesenvolvido, não resisti a sentir um prazerzinho sádico com essa história….Afinal, Surely You’re Joking, Mr Feynman!…..para lembrar um dos títulos (“O Senhor Está Brincando, Sr. Feynman?”) de best-seller do próprio Feynman!
Sobre o autor:
Sergio Mascarenhas é presidente de honra da SBPC. Comemora seus 90 anos neste mês, mais de 70 deles dedicados ao desenvolvimento da ciência no Brasil. graduou-se em Física pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (1952) e em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1951). É professor titular da Universidade de São Paulo – Instituto de Física e Química de São Carlos (atualmente aposentado) e professor visitante nas Universidades de Princeton, Harvard, MIT (EUA) e também na Universidade Nacional Autonoma e Centro de Estudios Avanzados (México), no Institute of Physical and Chemical Research (Japan), na London University (RU) e no Inst. Center for Theoret. Physics – Trieste e Univ.de Roma (Itália). Foi um dos fundadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária da Embrapa (Embrapa Instrumentação).