Em 2025, celebramos o centenário da mecânica quântica, uma das mais revolucionárias conquistas da ciência, que transformou radicalmente a maneira como concebemos a realidade, o conhecimento e os limites da linguagem científica. Este marco convida a refletir sobre as origens e implicações filosóficas dessa teoria, desde os seus princípios fundadores, como a complementaridade de Niels Bohr e o princípio da incerteza de Werner Heisenberg, até as famosas discordâncias com figuras como Schrödinger e Einstein. Isso é o que discute artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que celebra o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas.
A publicação do artigo de Werner Heisenberg, em 1925, seguida rapidamente pelas contribuições de Max Born, Pascual Jordan, Paul Dirac e Erwin Schrödinger, consolidou uma nova visão dos fenômenos naturais. Essa nova física não apenas remodelou os fundamentos teóricos da ciência, mas também subverteu conceitos clássicos como causalidade, objetividade e representação. Hoje, a mecânica quântica é uma das bases das tecnologias contemporâneas — da computação quântica ao laser, das ressonâncias magnéticas à física do estado sólido —, mas seu impacto vai muito além das aplicações técnicas, estendendo-se ao modo como pensamos sobre o próprio conhecimento e a natureza da realidade. “A mecânica quântica é, sem dúvida, um dos pilares das tecnologias contemporâneas”, afirma Patrícia Kauark Leite, professora no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG-Brasil) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-Brasil).
A filosofia da mecânica quântica não se resume a uma interpretação conceitual ou formalista; ela nos obriga a reconsiderar os limites da objetividade científica e a presença do sujeito nas práticas experimentais. A ideia de que um sistema físico só adquire determinadas propriedades no momento em que é medido, ou de que a natureza é constituída, em seu nível mais fundamental, por relações e possibilidades, e não por objetos com propriedades bem definidas, continua a provocar discussões intensas. Assim, cem anos após seu surgimento, a mecânica quântica permanece como uma chave para repensarmos o que significa conhecer.
No Brasil, esse campo de reflexão vem ganhando destaque nas últimas décadas, com a formação de uma tradição filosófica própria que articula fundamentos da física, lógica, epistemologia e contextos históricos. Este cenário mostra que a filosofia da mecânica quântica no Brasil não se limita a reproduzir debates internacionais, mas constrói caminhos originais e sofisticados, profundamente enraizados no diálogo com a história da ciência e as tradições filosóficas. “A pluralidade de interpretações contemporâneas revela que, cem anos após sua formulação, a teoria continua a desafiar nossos marcos conceituais”, declara Patrícia Kauark Leite.
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