Francilene Garcia comenta os desafios da ciência no Brasil

Em entrevista ao Jornal da Tarde, da TV Cultura, a vice-presidente da SBPC ressaltou que os investimentos na área têm sido marcados por ciclos de avanços e retrocessos

Em entrevista concedida ao Jornal da Tarde, da TV Cultura, no dia 8 de julho — data em que se celebra o Dia Nacional da Ciência e o Dia do Pesquisador Científico — a vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francilene Procópio Garcia, falou sobre a situação atual da ciência brasileira.

De acordo com a reportagem, os investimentos federais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil vêm caindo desde 2013, com a maior retração registrada em 2021. Desde então, o processo de recuperação tem sido lento.

Garcia, que assumirá a Presidência da SBPC a partir de 17 de julho, destacou que os investimentos em ciência no País têm sido marcados por ciclos de avanços e retrocessos. “Nos últimos anos, sofremos impactos severos, especialmente na manutenção da infraestrutura de pesquisa”, afirmou. Ela relembrou que, a partir de 2022, houve uma conquista importante da comunidade científica, com o resgate do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que passou a ser utilizado sem contingenciamentos.

Segundo ela, desde o início do atual governo, em 2023, o FNDCT vem sendo executado integralmente. No entanto, ela alertou que os investimentos públicos em ciência ainda são insuficientes. “Atualmente, esses recursos representam apenas 1,2% do PIB nacional. Enquanto isso, países do Leste Europeu e do Hemisfério Norte — inclusive alguns que compõem o Brics já destinam mais de 4% do PIB à ciência”, comparou.

Ela defendeu que, nos próximos anos, o Brasil deve lutar para alcançar pelo menos 2% do PIB em investimentos no setor. “Isso traria mais infraestrutura qualificada, estabilidade para a carreira científica, reduziria a fuga de cérebros e ajudaria a combater as desigualdades regionais, já que hoje há uma forte concentração de recursos nas regiões Sul e Sudeste. E, acima de tudo, garantiria ao Brasil algo essencial: a soberania científica”, concluiu.

Garcia ressaltou que, tanto no Brasil quanto no mundo, a ciência precisa contar com o apoio e a mobilização dos governos. “Desde a Constituição de 1988 e, posteriormente, com a Emenda Constitucional de 2015, ficou assegurado que a ciência deve ser tratada como uma política de Estado. Isso significa que ela precisa de investimentos públicos contínuos e estruturados”, afirmou.

A cientista também destacou que não basta apenas o aporte do Estado. É essencial ampliar e diversificar as fontes de financiamento, incluindo a participação do setor produtivo nacional. “As empresas brasileiras, ou que atuam no Brasil, também precisam investir em pesquisa e desenvolvimento. Essa participação é fundamental para garantir a sustentabilidade e o avanço da ciência no país.”

Para Garcia, ampliar as fontes de financiamento é essencial para garantir uma base sólida de apoio à ciência e assegurar o aproveitamento dos cerca de 20 a 22 mil doutores que o Brasil forma a cada ano, fruto de décadas de investimento em pós-graduação. “Esses profissionais precisam ter onde trabalhar, desenvolver suas pesquisas e contribuir com o país.”

Ela conta que a SBPC já tem atuado na defesa de legislações que incentivem a filantropia voltada à ciência. “Já existe uma lei que permite esse tipo de doação, mas a cultura da filantropia científica ainda é muito tímida no Brasil. Precisamos mudar isso.”

Veja a matéria completa a partir de 31’32” no Jornal da Tarde/TV Cultura

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