Temperatura abaixo dos 10º C em Cuiabá, neve em Santa Catarina e recorde de frio em São Paulo. As temperaturas baixas definitivamente chamaram a atenção nos últimos dias. Já sabemos que a crise climática exacerba especialmente ondas de calor, secas e chuvas torrenciais, mas o frio também pode acabar entrando em uma parte dessa equação. Segundo especialistas e estudos, em alguns locais e momentos, o frio extremo também pode ser associado à crise do clima.
Antes de mais nada, é importante ressaltar que não é simples apontar as relações entre um fenômeno específico —como a atual onda de frio— e a crise climática.
“Nesse fenômeno [onda de frio] é muito cedo para dizer. Temos que esperar que o evento termine e aí começamos a fazer pesquisa”, afirma José Marengo, climatologista e coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, sobre a crise do clima.
Exatamente para tentar resolver isso foram desenvolvidos os chamados estudos de atribuição. Eles tentam identificar qual peso a mudança do clima tem sobre eventos extremos, como secas e ciclones. Assim, os cientistas são capazes de apontar se o aquecimento global tornou mais provável um determinado evento.
Para isso, esses estudos de atribuição fazem modelagens climáticas que comparam e simulam o clima mundial, com e sem crise, permitindo observar as incidências de determinados eventos extremos. Pela complexidade, esse tipo de pesquisa não necessariamente é rápida, dificultando análise de fenômenos em andamento.
“Não é que a mudança climática explique esta onda de frio”, afirma o climatologista Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU).
Mas, de toda forma, sabe-se que a crise do clima tem relação com eventos extremos dos mais diversos tipos. Um exemplo já estudado são invernos extremos nos EUA. Um estudo recente publicado na revista Science mostrou como o aquecimento do Ártico —resultado das mudanças climáticas—, em determinados momentos, interfere e enfraquece o vórtex polar Ártico, no norte do planeta. Quando isso ocorre, o ar extremamente gelado pode escapar em direção ao sul e causar frio intenso na América do Norte e na Ásia. O exemplo mais recente e impressionante disso foi o da onda congelante que atingiu o Texas, em 2021.
Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo
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