“Fronteiras da inovação: desafios para o desenvolvimento de novos produtos” foi tema de mesa-redonda realizada na terça-feira, 26 de julho, durante a 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A atividade contou com a participação de Glaucius Oliva, professor titular do Instituto de Física de São Carlos (UFSCar) e coordenador do Centro de Pesquisa e inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); e Cristiano R. W. Guimarães, da startup Nintx (Next Innovative Therapeutics). A atividade foi coordenada por Laila Salmen Espindola, diretora da SBPC.
Segundo Oliva, o Brasil enfrenta vários desafios para gerar inovação, dentre eles, a promoção de investimento pelas empresas, capacidade de atrair talentos, melhorar a educação e a percepção da sociedade sobre o valor e a importância da ciência. “É preciso investir em informação e conhecimento, já que ambos são os principais componentes do patrimônio do século 21”, afirmou.
O pesquisador ressaltou que em todo o mundo a universidade moderna estende seu papel de geração de transmissão de conhecimento, para incluir também a missão de inovação. “A geração de inovação nem sempre é algo novo, mas ela pode gerar novos processos, serviços ou políticas públicas, tornando assim, as coisas mais baratas e acessíveis.”
Oliva afirma que no Brasil grandes empresas públicas, como Embraer e Petrobras, e instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), permitiram uma troca de conhecimentos que estimula a pesquisa científica na academia e com isso permitiram inovações.
Ao falar de patentes, o coordenador do CIBFar comemorou o crescimento do número de registros no País depositados por universidades, segundo dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). “Entre 2014 e 2019, 76% das instituições que mais registraram patentes são universidades públicas. Dentre as universidades públicas que mais se destacam no protocolo de títulos industriais estão as Universidades Federais de Campina Grande (UFCG), Minas Gerais (UFMG), Paraíba (UFPB), junto à Universidade de São Paulo (USP).”
Guimarães, da startup Nintx, por sua vez, apresentou dados da indústria e ressaltou que ainda há uma ‘certa’ desconexão entre a academia e o setor industrial. Ele também criticou a pressa das universidades brasileiras de correr atrás de números, sem focar no objetivo de gerar produtos.
“Me incomoda muito ver as universidades brasileiras correndo para patentear. Não é por falta de conteúdo, mas imagino que elas estejam buscando apenas números. Às vezes você está destruindo a sua futura inovação porque patenteou antes do prazo, já que não tem nada que possa gerar um produto. E ainda gerou um empecilho para você mesmo lá na frente, já que você não vai conseguir patentear algo robusto para oferecer para indústria farmacêutica ou qualquer outra empresa. A gente precisa aprender o momento correto para patentear, ter estratégia de território.
Segundo Guimarães, as empresas farmacêuticas investem muito em pesquisa e desenvolvimento, além de buscar nas universidades pessoas. “Sabemos que conhecimentos são gerados na multidisciplinaridade desses ambientes”, concluiu.
Vivian Costa – Jornal da Ciência