Diálogo entre instituições que atuam em pesquisa e redução dos entraves burocráticos que envolvem o trabalho científico. Esses foram dois propósitos assumidos pelo futuro ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o engenheiro-aeronáutico Marcos Pontes, durante evento promovido por sua equipe de transição e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que reuniu instituições de pesquisa, ensino e inovação brasileiras.
O encontro “Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável: Debate para o Futuro” foi realizado quinta-feira (6/12), no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília (DF). “Pretendo fortalecer esse diálogo, promovendo encontros periódicos como este e, como a necessidade de desburocratização foi citada várias vezes, vamos buscar maneiras de retirar entraves que estão em todo o sistema”, afirmou o futuro ministro.
Dados que trazem recursos
Pontes se disse impressionado com os números do Balanço Social da Embrapa, apresentados pelo secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa, Bruno dos Santos Brasil, que representou o presidente Sebastião Barbosa no evento. “Para cada real que o governo investiu na Embrapa, em 2017, a sociedade brasileira recebeu R$11,06 de volta em impactos econômicos e sociais”, apresentou Brasil ao citar o Balanço Social.
“Eu não conhecia esses números, vou levá-los ao presidente e ao Congresso. É desse tipo de informação que precisamos para trazer recursos para a ciência”, ressaltou Marcos Pontes ao folhear o documento. Bruno Brasil discorreu também sobre as perspectivas e os rumos da pesquisa agropecuária brasileira, detalhados no documento Visão 2030 da Embrapa.
O futuro ministro da Ciência também elogiou a experiência da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii), apresentada pelo seu presidente, Jorge Guimarães. “Precisamos escalonar modelos que estão dando certo como o da Embrapii”, sugeriu Pontes, “fazendo as adaptações necessárias para cada caso”.
Guimarães frisou o desafio de iniciar uma instituição com modelo completamente novo de atuação. “A qualificação de Organização Social da Embrapii dá mais agilidade à instituição, ao mesmo tempo em que provoca estranhamento em quem não está acostumado a trabalhar nesses moldes”, relatou.
Atuante na interseção entre instituições de pesquisa e empresas com competência para desenvolver inovações, a Embrapii enfrenta desafios como o de dialogar com um setor industrial com pouca tradição em executar pesquisa, de acordo com seu presidente. “Mais de 90% dos grupos empresariais brasileiros não possuem centros de pesquisa e desenvolvimento”, informou Guimarães.
Diálogo e desburocratização
A articulação entre os diferentes atores da pesquisa nacional e a necessidade de facilitar processos burocráticos que oneram o trabalho científico estavam entre as principais reivindicações das instituições participantes do debate.
“Esta iniciativa de diálogo é inédita e muito bem-vinda. Precisamos de articulação e união para resolver questões como o processo burocrático que atrapalha o desenvolvimento e a necessidade de orientar a inovação no País. Nós desenvolvemos a ciência, mas falta avançarmos na inovação”, afirmou João Fernando Gomes de Oliveira, da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
“Cerca de 35% do tempo do pesquisador brasileiro é gasto com burocracia. Perdemos mais de um terço da força de trabalho em ciência preenchendo papéis”, revelou Fernando Peregrino, presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), em sua fala.
Dinheiro para a pesquisa
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges, mostrou sua preocupação a respeito da redução do orçamento previsto para a instituição no próximo ano. “O futuro ministério precisará de uma boa equipe e de proximidade com o presidente, especialmente para a liberação de recursos”, recomendou.
Ronaldo Camargo, da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep), elogiou a decisão da nova equipe ministerial de não alterar as estruturas dos entes federais que atuam em pesquisa. “Qualquer fusão ou alteração de estruturas iria gerar um período de difícil adaptação do sistema de pesquisa, que traria muito atraso”, disse.
O evento reuniu mais de 30 gestores de instituições ligadas à pesquisa científica e teve como objetivo subsidiar a equipe do novo governo com informações sobre os principais problemas e desafios enfrentados no setor.