Uma característica comum entre as ganhadoras do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” na categoria “Meninas na Ciência” é as jovens cientistas, ao se inscreverem, não se acharem capazes de ganhar a premiação. O anúncio de vitória não é apenas uma conquista, mas o entendimento de que existe uma carreira profissional preparada para elas, a qual elas são perfeitamente capazes de seguir. Essa é também a história da Raquel Soares Bandeira.
“É algo que eu nunca esperava na minha vida, pra começar. Assumo que, quando eu me inscrevi, eu me inscrevi bastante insegura, pensando: ‘Ah, meu projeto não é tão lá essas coisas, eu não sou lá tão essas coisas, então vou participar por participar’. E eu fiquei extremamente surpresa com o resultado. Muito, muito feliz mesmo. Foi uma lição para eu não me diminuir, acreditar nos meus sonhos e conseguir enxergar o quão capaz eu sou”, conta.
Vencedora da primeira edição dedicada às meninas cientistas, em 2021, Raquel apresentou um estudo desenvolvido em sua graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Nós temos essa mania de ficar se autossabotando e essas premiações especiais, principalmente voltadas para a valorização do trabalho da mulher, fazem a gente mudar a cabeça e enxergar: ‘Caramba, eu posso! Eu tenho total competência para fazer o que eu faço. E fui capacitada por outras mulheres tão sensacionais quanto eu posso ser um dia’”, reflete.
Quase quatro anos depois, a vida de Raquel deu uma guinada científica. Ela terminou a graduação, passou e concluiu o mestrado e, agora em 2024, iniciou o doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical da UFMG. “O Prêmio Carolina Bori também dá um engajamento pra gente, né? ‘Ah, então quer dizer que eu estou no caminho certo? Eu posso continuar aqui, que eu tenho futuro nisso!’, eu pensei. E acabei pegando no embalo, emendei a graduação com o mestrado e, agora, com o doutorado.”
Na sua área de estudo, Raquel olha para doenças que ainda são negligenciadas pela saúde pública e conta com m grupo de estudos majoritariamente feminino para ajudar nesta tarefa.
“Eu mexo atualmente com leishmaniose, principalmente leishmaniose tegumentar, que é aquela que acomete a pele em humanos, mas também estudo um pouco de leishmaniose visceral em cães. Ainda, no grupo de pesquisa, trabalhamos bastante com hanseníase e Chagas, principalmente sobre aprimoramento de diagnóstico e aprimoramento de tratamentos e vacinas. É o universo bem expandido das doenças negligenciadas da medicina tropical, como a gente fala.”
Para a jovem cientista, foi a sua personalidade que a conduziu para a carreira científica. “Eu sempre fui muito curiosa. Eu gosto da pesquisa, da investigação, de produzir resultados. Eu gosto de entender como as coisas funcionam e como eu posso operar para que elas funcionem melhor. A minha questão é: como eu posso ter um papel importante na sociedade? Como que, a partir da minha pesquisa, eu posso promover uma saúde melhor para a minha comunidade, para o Brasil?”
Sabendo que as inscrições para a 6ª edição do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” estão em sua reta final, até 31 de outubro, Raquel deixa uma mensagem de estímulo a cada jovem cientista espalhada no País.
“Acredite em você, é a primeira coisa que você tem que fazer. Não subjugue o seu projeto, não subjugue você mesma, você pode ir muito além daquilo que imagina. Esse é um prêmio incrível para você concorrer, porque uma vez participando, ganhando, ou recebendo menção honrosa, você pode inspirar outras futuras cientistas. É muito além de ganhar um prêmio, de ser um rosto na mídia, nas redes sociais. É mostrar que a gente está produzindo e produzindo coisa de ponta”, conclui.
Inscrições para a 6ª edição do Prêmio seguem até 31 de outubro
As indicações para a 6ª edição do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher” podem ser feitas até 31 de outubro de 2024, e são voltadas a alunas cujas pesquisas de iniciação científica demonstrem criatividade, rigor metodológico e potencial para contribuir com o futuro da ciência no país. Com seis vencedoras – três do Ensino Médio e três da Graduação –, a premiação abrange as três grandes áreas do conhecimento: Humanidades; Biológicas e Saúde; e Engenharias, Exatas e Ciências da Terra.
As interessadas devem ser indicadas por professores, orientadores, coordenadores de escola ou organizadores de olimpíadas e feiras científicas nacionais. Todas as informações sobre as regras de participação estão disponíveis no Edital do Prêmio. As indicações devem ser feitas exclusivamente pelo formulário online, disponível neste link, com os documentos solicitados anexados.
Para mais informações, visite o site da SBPC ou entre em contato pelo e-mail premiocarolinabori@sbpcnet.org.br.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência