A semana deste primeiro ciclo da versão virtual e reduzida da 72ª Reunião Anual da SBPC se encerra neste sábado com um espetáculo teatral em homenagem ao centenário do sociólogo e defensor da Educação Pública no Brasil, Florestan Fernandes. E quem faz o convite para assistir à peça “Vicente e Antonio: A história de uma amizade”, hoje, às 19h30, é próprio autor, o dramaturgo Oswaldo Ramos Mendes Filho (veja o vídeo aqui): “Tem teatro na Reunião Anual da SBPC!”
Parte da agenda das atrações da SBPC Cultural, a transmissão é aberta a todos, pelo canal do YouTube da entidade.
“É uma peça sobre a amizade improvável de dois dos maiores intelectuais brasileiros – Florestan Fernandes e Antonio Candido”, conta Mendes Filho.
Nascido no dia 22 de julho de 1920, Florestan era filho da imigrante portuguesa Maria Fernandes, uma empregada doméstica, analfabeta, abandonada pelo pai da criança. Já Antônio Cândido foi um sociólogo e crítico literário. Dois homens de mundos diferentes que se encontraram na amizade. Ele cresceu em um bairro pobre da periferia de São Paulo, passando por todo tipo de privações, a começar pelo próprio nome.
O nome Florestan foi uma homenagem a um motorista dos patrões de Maria, que por sua vez, dizia ter ganho esse nome de um personagem da ópera Fidélio, de Beethoven, de acordo com o jornalista Florestan Fernandes Júnior. O filho de Florestan conta que os patrões consideravam um nome “muito sofisticado” para o filho de uma empregada e simplesmente escolheram outro nome, Vicente, e assim passaram a chamá-lo. Fernandes foi conhecido como Vicente durante toda a infância e adolescência, até entrar para a faculdade no início da década de 1940.
Já Antonio Candido era filho de um médico e cresceu em meio aos livros e à educação de qualidade no eixo São Paulo-Minas Gerais. “São duas pessoas que no mundo real jamais seriam amigos porque Florestan era filho de mãe solteira, nasceu no Brás, começou a trabalhar cedo de barbeiro e engraxate e Antonio Candido, aos 12 anos, já lia Goethe”, definiu Oswaldo Mendes.
A ideia da peça de teatro foi do jornalista Fernandes Júnior que guardou toda a troca de correspondências do pai com Candido. Em um encontro no início do ano passado, Fernandes Jr. falou das cartas e sugeriu que Mendes escrevesse uma peça de teatro sobre a amizade dos dois. “Antonio Candido e Florestan Fernandes foram amigos a vida toda e a correspondência entre eles começou antes mesmo que se conhecessem pessoalmente”, relata o filho.
Mendes topou o desafio e este ano produziu a peça que, devido à pandemia do coronavírus, não pode estrear ao vivo. Sob a direção de Eduardo Tolentino (primo de Candido), Mendes Filho interpreta o Candido maduro. Caetano O’Maihlan Rodrigues de Oliveira e Silva faz o Candido jovem; Walter Breda de Souza interpreta Fernandes maduro e José Augusto N. Zacché, o Fernandes jovem.
A leitura dramática de “Vicente e Antônio” foi gravada no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, em São Paulo, de forma a respeitar o distanciamento social. A encenação foi transmitida pela primeira vez no dia 22 de julho, simultaneamente pela SBPC, pelo portal UOL, pelo SESC e pela Casa do Saber.