As palestras fizeram parte das comemorações dos 50 anos do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que trouxe Helena Nader, presidente da SBPC, Marcos Silveira Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, e Carlos Henrique Brito da Cruz, diretor científico da Fapesp, para comporem o painel “A Ciência Brasileira e seus Desafios”
Aumentar o impacto da pesquisa na sociedade é um desfio urgente a ser enfrentado pela ciência brasileira, afirmou o professor Carlos Henrique Brito da Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na manhã desta segunda-feira (10), no auditório do GGBS da Unicamp. A palestra fez parte das comemorações dos 50 anos do Instituto de Biologia (IB), que trouxe também Marcos Silveira Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), para comporem o painel A Ciência Brasileira e seus Desafios.
Brito destacou a atual dimensão do debate sobre o impacto da ciência na sociedade por meio do editorial da revista Nature “Beyond the scicence blubble” (Ciência além da bolha), publicado em fevereiro. Conforme notou o professor, o texto afirma que “quem paga imposto obteve pouco benefício dos avanços da ciência”. Segundo Brito, o editorial reflete uma mudança na visão sobre a ciência, ocorrida nos últimos 30 anos. Se no pós-guerra havia um consenso sobre a importância do financiamento da pesquisa fundamental, hoje as pessoas parecem não ver a conexão entre as descobertas científicas e seu dia-a-dia. Ele citou como exemplo o falacioso discurso de Steven Jobs, registrado no livro da economista Mariana Mazzucato. “Ele dizia não precisar da ajuda do governo, que as empresas fazem tudo. Mas está lá ganhado dinheiro com computador que usa memória magnética e semicondutor financiados pelo Estado”.
Para enfrentar essa conjuntura, a Fapesp tem buscado ajustar o sistema de pesquisa no Estado no sentido de “ter mais e mostrar melhor os impactos social, econômico e intelectual da pesquisa”. Para aumentar o impacto, Brito sinalizou a importância do rigor na seleção de projetos de pesquisa, estudantes e professores. Além disso, enfatizou a necessidade de desenvolver novas estratégias de comunicação com a sociedade para mostrar os resultados obtidos de forma mais eficiente.
Marcos Silveira Buckeridge, por sua vez, destacou a assimetria da distribuição da produção científica no mundo. Segundo ele, 20% dos países são responsáveis por 80% da pesquisa realizada. Tal desproporção se repete em escala regional, conforme indica o Mapa da Ciência no Estado de São Paulo, recentemente elaborado pela Aciesp. As regiões metropolitana de São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto e Araraquara concentram 76% da pesquisa desenvolvida no Estado. Além da concentração, a leitura dos dados apontados pelo Mapa traz questionamentos sobre a relação entre a pesquisa e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na região. Para Buckeridge, essa análise é fundamental para orientar as decisões publicas e mostrar para a sociedade o que está sendo feito. “Sem entender como a ciência afeta a sociedade não tem como justificar a ciência”, defendeu.
Para a presidente da SBPC, falta ao Brasil a visão estratégica de que as áreas de educação, ciência, tecnologia e inovação demandam politicas de Estado, não de governo. Nader comparou o Brasil a países como Coréia e China. “Na Coreia, as melhores universidades formam os professores. Isso é um projeto de Estado. Na China, a mesma coisa. Aqui, deixamos para iniciativa privada”, apontou. Em oposição à centralidade estratégica que o desenvolvimento cientifico ganhou nesses países, leia-se massivo investimento público, o Brasil vive sucessivos cortes orçamentários. “O que foi feito na semana passada foi o contingenciamento em cima do contingenciamento. 50% do que já tinha sido cortado foi contingenciado. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações está com 20% do orçamento do que ele tinha para viver o ano todo. Como você libera 80% de um recurso se nós já estamos em abril? Isso é muito grave.” E concluiu, “o Brasil tem um problema de conceito. Enquanto educação, ciência, tecnologia e inovação forem considerados gastos, e não investimentos, você não vai mudar a cabeça das pessoas.”